Tatá conta brevemente a vida, a morte e o pós-morte de uma das mais extraordinárias cientistas da história
Eu achei uma publicação no Instagram sobre a Marie Curie (se você não sabe quem é, está tudo bem), sobre como o corpo dela estava em um caixão revestido com 2,5 milímetros de chumbo para evitar que os átomos radioativos que ainda saem do seu corpo pudessem se espalhar. E achei que fosse interessante comentar o assunto.
Para sermos didáticos, começaremos com quem foi ela, depois partimos para os seus estudos e prêmios e, por fim, as consequências que tais descobertas lhe geraram.
Marie Curie, que inicialmente era Maria Salomea Sktodowska, nasceu na Polônia em 1867, mas foi em Paris que realizou maior parte de suas pesquisas. Curie foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel e continua sendo a única pessoa a ganhar o Nobel em duas áreas diferentes: Física, pela descoberta da radioatividade, e Química, pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio.
Marie enfrentou diversos desafios — e sabemos de cara que, com certeza, era pelo seu gênero, visto que até hoje enfrentamos, imagina então em 1900? A Física foi e continua sendo muito elitizada e dominada por homens. Marie trabalhou sob condições perigosas, mas não sabia, pois ainda não eram conhecido os perigos da exposição à radiação.
Sabendo, hoje, sobre tais perigos, podemos acreditar que a causa da sua morte, em 1934, tenha sido anemia aplástica, que ocorre quando a medula óssea não produz células sanguíneas suficientes.
Tá bom, mas e a radioatividade, você sabe o que é? Hoje, temos uma tabela bem bonitinha, cheia de cores e informações, com os elementos químicos, conforme aprendemos na escola. Alguns desses elementos possuem átomos instáveis, que emitem espontaneamente radiação, que é a emissão e a propagação de energia por meio de ondas eletromagnéticas ou de partículas. Mas, Tatá, por que eles fazem isso? (Espero que essa tenha sido a pergunta que surgiu em sua cabeça.)
Os átomos instáveis emitem radiação tentando alcançar uma configuração mais estável, isso pode acontecer de forma natural ou artificialmente em laboratório.
Esse processo do núcleo instável se transformar em um núcleo estável — ou até mesmo em um elemento químico diferente — é chamado de decaimento radioativo. Vou deixar uma pergunta pairando no ar e espero te ver aqui, semana que vem, para responder: o que causa a radioatividade em um elemento?
Agora, que já te deixei com uma pulga atrás da orelha, chegou o momento de saber as consequências da radioatividade e o motivo de o caixão de Marie ter chumbo e seus manuscritos estarem guardados a sete chaves.
Todas as descobertas de Marie estão ligadas ao meu estágio também, em física médica, elas possibilitaram o diagnóstico por imagem e a radioterapia, por exemplo. Outra consequência foi a datação de fósseis com o carbono-14, método de que todos nós já ouvimos falar em algum jornal quando se noticiou a descoberta de um fóssil de dinossauro de milhões de anos.
Mas a exposição excessiva à radiação causa danos às células e ao DNA. Marie não sabia e carregava amostras de rádio nos bolsos pra cima e pra baixo e ainda guardava por aí em umas gavetas. Ela também foi exposta a radiação sem proteção quando trabalhava em dispositivos móveis de radiação durante a Primeira Guerra. E, além diso, teve bastante contato com polônio, elemento radioativo descoberto por ela própria.
Marie foi enterrada em um caixão com revestimento de chumbo, fato que veio à tona quando seus restos mortais foram transportados para o Panteão, em Paris, junto com os de Pierre, que morreu antes dela, atropelado por uma charrete. O túmulo do casal também tem um revestimento de chumbo, assim como as caixas contendo seus documentos e pertences, pois os materiais manuseados por eles possuem meias-vidas muito longas, ou seja, permanecem radioativos por muito tempo.