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Notícias do Sol

por | 29 jun 2023

Por Thaciana de Souza Santos

O pico da atividade solar previsto para o próximo ano é o normal de seus ciclos de 11 anos, diz colunista, recomendando tranquilidade aos que viu alarmados com os efeitos das previsíveis manchas solares

Resolvi voltar para a nossa antiga programação de curiosidades astronômicas. E hoje decidi falar sobre o Sol. Sim, esse mesmo.

Há duas semanas eu vi uma publicação sobre as manchas solares (vou chegar nelas, espera um pouquinho!) e acho que, por mostrar apenas imagens que estão na internet, sem as devidas explicações a acompanhá-las, ao vê-la as pessoas já tiram conclusões precipitadas.

Nos comentários tinha de tudo: que Jesus estava voltando, que era o apocalipse, e os adolescentes perguntando se teria aula, ou se era um buraco negro e se ia nos engolir.

Eu não os julgo, só as fotos não são suficientes para a compreensão, e o conhecimento sobre o universo não é facilitado. É nesses momentos que percebo o quão importante é essa coluna.

Mas enfim, bora tirar todas as dúvidas sobre o Sol. Comecemos com o que ele é: uma estrela. Sim, isso mesmo, igual a essas que vemos à noite, tão brilhantes. Mas, se o Sol é uma estrela, por que vemos ele tão grande e as outras, tão pequenas? Não podemos esquecer que o universo é grande, imenso, gigantesco, e ele está se expandindo, que as estrelas pequenas que vemos à noite estão muito, mas muito, longe de nós, e a luz que vemos foi emitida há muitos anos.

A luz demorou um certo tempo para chegar até aqui, tanto que várias dessas estrelas podem ter morrido há muito tempo, não saberemos. Já o Sol, está vivíssimo e eu vou explicar a sua trajetória até o ponto em que morrerá.

As estrelas demoram milhões ou até bilhões de anos para se formar e depois de formadas passam alguns outros milhões de anos na sequência principal, que é a casinha das estrelas, onde elas cumprem todo o seu papel principal. Elas estão nessa faixa enquanto consomem hidrogênio como principal combustível nuclear. E depois disso evoluem até chegarem ao fim.

Isso ocorrerá com o Sol, mas não será por agora, então, não há necessidade preocupação. Ele ainda tem muito serviço pela frente.

Falemos agora da sua estrutura: o Sol tem um núcleo onde a energia é gerada, muito denso e com uma temperatura altíssima. Depois tem a zona radiativa, na qual a energia é transportada por radiação eletromagnética. Em seguida, vem a zona convectiva, em que a energia é transportada por convecção, e o gás mais quente vai em direção à superfície, ou seja, sobe, e o mais frio desce às regiões mais internas.

Após a zona convectiva está a fotosfera, uma camada super fina se comparada com as partes mais externas do Sol, e já pelo seu nome, que significa esfera de luz, dá para sacar que é a camada onde a maior parte da energia do Sol é emitida. É a luz da fotosfera que demora aproximadamente 8 minutos para chegar até nós.

É na fotosfera que estão as manchas solares, não são iguais à grande mancha vermelha de Júpiter, que é um ciclone. Mas manchas solares são apenas regiões mais escuras porque estão mais frias. Claro que por se tratar do Sol, que é gigante, as manchas também o são, têm em média o tamanho da Terra. Não é nenhum buraco que pode simplesmente sugar a Terra.

 

A explicação das manchas é um tanto quanto simples até: o equador, que é o meio, gira muito mais rápido que os polos e por isso as linhas de campo magnético acabam sendo distorcidas (campo magnético é uma região do espaço capaz de exercer força sobre cargas elétricas em movimentos ou em materiais com muitas propriedades magnéticas). Daí, em algum momento essas linhas saltam da superfície e voltam para a atmosfera, criando um par de manchas. Difícil de entender? Pense em duas pessoas batendo corda: se elas não estão em sintonia, a corda não se move de uma forma boa para a gente pular. É parecido com o que acontece quando as linhas de campo magnético não estão em sintonia com o movimento do Sol e fazem um movimento meio estranho.

Esse é justamente o maior pico de atividade solar, indicando que um ciclo de 11 anos está chegando ao fim, algo que acontecerá no ano que vem. Desde que se observa essa atividade, o ciclo sempre aconteceu, à exceção de um período de cerca de 70 anos, entre 1640 e 1710, chamado de Mínimo de Maunder, em que as manchas solares não foram vistas. Mas de hábito, o Sol “renova” suas atividades a cada período de 11 anos.

Após a fotosfera, tem a cromosfera, que emite pouca radiação por causa da baixa densidade, e pode ser vista somente durante um eclipse solar total, em que a Lua oculta a fotosfera. Nessa região é possível encontrar espículos (eu sei que o nome é bem estranho), jatos de gás quente com apenas alguns minutos de vida.

Depois, há a zona de transição, onde a temperatura aumenta rapidamente, e a coroa solar, que pode ser vista durante um eclipse solar total. Quando a coroa vai de distanciando, ela se transforma em vento solar, partículas de gás ejetadas do Sol e que se espalham por todo o sistema solar. Se houver ejeção da massa coronal e ela encontrar a Terra, podemos ter problemas de perda de comunicação e energia. Entramos aí no campo das tempestades solares, mas vamos lembrar que a Terra está protegida pela magnetosfera que, aliás, além do papel de defesa cria a beleza das auroras boreais ou polares.

O Sol ainda tem muito tempo de atividade e tudo o que está acontecendo é  normal e vai continuar por muito tempo. Quando o Sol chegar ao final de sua atividade, talvez nem estejamos mais aqui. Então fiquem tranquilos, por enquanto, ele não irá nos engolir.


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

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