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Nasa aposenta telescópio espacial Spitzer e prepara James Webb, seu sucessor
Exploração espacial

por | 31 jan 2020

Jornal da USP

This artist’s concept shows NASA’s Spitzer Space Telescope. Spitzer begins its “Beyond” mission phase on Oct. 1, 2016. Spitzer is depicted in the orientation it assumes to establish communications with ground stations.
Spitzer is over 130 million miles (210 million kilometers) away from Earth, or about 1.5 times the distance between Earth and the Sun. The selected research proposals for Spitzer’s Beyond phase include a variety of objects that the mission was not originally planned to address — such as galaxies in the early universe, the black hole at the center of the Milky Way and exoplanets.
Concepção artística do telescópio Spitzer – Ilustração: Nasa

A Nasa acaba de aposentar o telescópio espacial Spitzer, enviando a ele neste dia 30 de janeiro seus últimos comandos para operação. Em 16 anos de atividade, o Spitzer observou e analisou planetas fora do nosso sistema solar – os exoplanetas –, moléculas complexas em região de formação estelar e estrelas e galáxias que se formaram quando o universo ainda era relativamente jovem, entre outros objetos.

Isso foi possível porque o telescópio consegue captar a radiação infravermelha que vem de objetos no espaço. O astrônomo Augusto Damineli, professor no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, explica que captar sinais nessa faixa do espectro eletromagnético “permite ‘driblar’ nuvens espessas de gás e poeira que escondem o nascimento de estrelas, por exemplo – o que é muito difícil fazer quando se observa usando a luz visível”.

Fazer observações nesse comprimento de onda no espaço, continua o professor, é muito mais eficaz do que a partir da Terra. “Para esse tipo de telescópio, a atmosfera terrestre é como uma fogueira: emite muito mais luz do que a maioria dos astros que se pretende enxergar e por isso é mais difícil fazer estas observações daqui de baixo.”

Para captar essa radiação infravermelha, os instrumentos de um telescópio precisam ser extremamente sensíveis. Isso equivale, neste caso, a ter temperaturas tão baixas quanto possível. Resfriado criogenicamente e protegido da radiação da Terra e do Sol por uma capa refletora, o Spitzer consegue operar a temperaturas perto do zero absoluto. Manter a temperatura fria e coordenar funções vitais como carregar a bateria e se comunicar com a Terra têm sido, no entanto, cada vez mais difícil. Por isso a Nasa resolveu encerrar as operações do telescópio. “Mesmo assim, a longevidade deste telescópio foi extraordinária: foi projetado para durar dois anos e meio, mas funcionou por dezesseis anos”, pontua o professor.

Lançado em 2003, o telescópio é um dos quatro integrantes do programa de grandes observatórios da Nasa, enviados ao espaço sideral para fazer observações em diferentes comprimentos de onda do espectro eletromagnético. Os telescópios Hubble (que faz observações em luz visível, ultravioleta e próxima do infravermelho), Chandra (que observa em raio-x) e Compton (que observa na faixa de raios gama) fazem parte do programa da Nasa. Hubble e Chandra ainda estão operacionais.

Lançamento do telescópio Spitzer, em 25 de agosto de 2003 – Foto: Nasa

Sucessão

O Spitzer já tem um sucessor: o telescópio espacial James Webb, que também operará na faixa do infravermelho. A expectativa é que seja lançado no ano que vem e que consiga fazer observações de galáxias muito distantes e objetos de luminosidade muito fraca, além de explorar em mais detalhe corpos que o telescópio Spitzer conseguiu enxergar, mas não analisou.

A comunidade astronômica brasileira não tem grande tradição em observações em infravermelho, “mas pode ser que aconteça como foi com o observatório Alma, cujo funcionamento estimulou muito a formação de astrônomos especialistas em observação na faixa de rádio”, espera Damineli.

 

Por Meghie Rodrigues, jornalista do GMTBrO – Telescópio Gigante de Magalhães

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