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Jovens cientistas criam campanhas para divulgar suas pesquisas

Jornal da USP

A hashtag #1MinutodeCiência está circulando no Instagram, Facebook e Twitter: jovens cientistas falam sobre suas pesquisas e do papel fundamental do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para a realização desses estudos – Fotomontagem: Jornal da USP

Duas campanhas criadas por alunos e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) querem dar visibilidade às pesquisas desenvolvidas na Universidade e mostrar o papel essencial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para a realização desses estudos: #1MinutodeCiência e Vai Lá no Meu Pôster.

A campanha #1MinutodeCiência foi criada por alunos e pesquisadores do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia (IP) da USP e tem circulado nas redes sociais (Instagram, Facebook e Twitter) com a hashtag homônima. Os organizadores também criaram uma comissão de acolhimento para apoiar os alunos que sofrerão mais diretamente com os cortes. Nesse sentido, a comissão se organiza em três vertentes principais: divulgação (com a hashtag), auxílio à moradia e auxílio com questões judiciais.

Já o Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), do Instituto de Química da USP, lançou a campanha Vai Lá no Meu Pôster para divulgar ciência. Alunos e jovens pesquisadores do Centro apresentam seus trabalhos em vídeos curtos, veiculados no canal do Redoxoma no YouTube. O projeto funciona como uma sessão de pôsteres em um congresso científico permanente. No meio acadêmico, as sessões de pôsteres nos congressos são oportunidades de contato mais direto e descontraído entre pesquisadores.

#1MinutodeCiência

A iniciativa da campanha #1MinutodeCiência surgiu frente aos cortes de verbas destinadas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as duas mais importantes agências nacionais de fomento à ciência e à tecnologia no Brasil.

A campanha tem como objetivo principal colocar “rosto” nas bolsas de pós-graduação, compartilhar as pesquisas realizadas com o público em geral, especialmente no sentido de ressaltar as importâncias práticas e teóricas do desenvolvimento de cada um desses trabalhos, que só são possíveis com o apoio institucional, financeiro e logístico do CNPq e da Capes. “Pesquisas e pesquisadores estão criticamente ameaçados pelas novas políticas ditas de contingenciamento de recursos”, destaca a bióloga Natália de Souza Albuquerque, mestre e doutora pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP.

Em seu mestrado, Natália analisou o comportamento de cães e constatou que esses animais conseguem, além de diferenciar, reconhecer expressões emocionais de raiva e alegria tanto em seres humanos como em outros cães. No doutorado, a bióloga constatou que, quando os cães percebem algo negativo que afeta o próprio estado emocional deles (possivelmente também de forma negativa), eles apresentam um sinal visual, que é o ato de lamber a própria boca.

Os pesquisadores responsáveis pela campanha #1MinutodeCiência criaram uma comissão de acolhimento, que está dedicada a apoiar os alunos que sofrerão mais diretamente com os cortes – Fotomontagem: Jornal da USP

As duas pesquisas renderam outros trabalhos em parcerias com universidades do exterior e pesquisadores brasileiros. Um exemplo é o artigo Goats prefer positive human emotional facial expressions publicado na prestigiada revista científica Royal Society Open Science. O artigo sugere que cabras são capazes de discriminar entre expressões humanas alegres e de raiva, mostrando preferência pelas primeiras. Leia matéria completa aqui.

De acordo com Natália, “alunos de graduação, de mestrado e doutorado de todas as áreas das Ciências Biológicas, Humanas e Exatas, outros pesquisadores, docentes e técnicos sofrerão enormemente com os cortes. Mas os impactos negativos não estão limitados às paredes da Universidade, mas atingem também todas as esferas da sociedade, que perderão recursos extremamente valiosos que garantem o progresso e o desenvolvimento do País”.

A bióloga explica que “com a hahstag #1MinutodeCiência, estamos fazendo um apelo à sociedade e um convite a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, são ou foram beneficiadas pelas verbas destinadas à pesquisa no País, especialmente aquelas provenientes das agências CNPq e Capes. A campanha se iniciou no Instituto de Psicologia da USP, mas a luta é de todos. Estamos de luto, mas é falando que faremos uma mudança”.

Comissão de acolhimento

Os pesquisadores responsáveis pela campanha criaram uma comissão de acolhimento, que está dedicada a apoiar os alunos que sofrerão mais diretamente com os cortes. Nesse sentido, a comissão se organiza em três vertentes principais: divulgação, auxílio à moradia e questões judiciais.

Os objetivos da comissão de acolhimento são:
1) divulgar as pesquisas realizadas por alunos e pesquisadores de todo o País, trazendo especial atenção para os prejuízos que virão com os cortes;
2) buscar e criar alternativas para os alunos que ficarão sem condições de moradia após os cortes, para que não fiquem desamparados;
3) buscar e criar mecanismos de proteção legal para os alunos que perderão suas bolsas (quebra de contrato). De forma especial, a comissão pretende unir departamentos, institutos, universidades de todo o Brasil e existir como um espaço de resistência e de acolhimento. Ninguém deve se sentir sozinho em um momento tão crítico.

Pesquisadores interessados devem entrar em contato com a comissão organizadora pelo e-mail 1minutodeciencia@gmail.com

Vai Lá no Meu Pôster
“Um aspecto interessante deste projeto [Vai Lá no Meu Pôster] é que esses jovens estão na linha de frente da pesquisa e o fato de contarem como fazem os experimentos desmistifica um pouco a ciência. São jovens como os outros, que vão ao cinema, namoram e estão no laboratório fazendo ciência”, afirma a professora Carmen Fernandez, do Instituto de Química da USP e coordenadora de Educação e Difusão do Conhecimento do Cepid Redoxoma.

A internet é uma ferramenta poderosa de divulgação científica e os vídeos estão se tornando indispensáveis, principalmente para o público jovem. O Cepid Redoxoma tem promovido diversas iniciativas de divulgação científica, em diferentes plataformas e linguagens, com alcances variados.

Vai Lá no Meu Pôster foi pensado como uma sessão de pôsteres em um congresso científico permanente. No meio acadêmico, as sessões de pôsteres nos congressos são oportunidades de contato mais direto e descontraído entre pesquisadores – Foto: Reprodução / Redoxoma

“O público-alvo deste projeto são estudantes de graduação e de pós-graduação, nosso celeiro de cientistas. As ações de divulgação científica dedicadas à educação básica ajudam a popularizar os cursos superiores de ciências. Esta ação visa a fortalecer a opção pela carreira científica entre graduandos”, avalia o professor Guilherme Marson, também do IQ e do Cepid Redoxoma. Ele destaca que, “aproveitando essas iniciativas de produção de vídeos de divulgação, nós vimos uma oportunidade de contribuir, criando um caminho para que cientistas possam se apropriar desses canais”.

Como falar para um público leigo ou para especialistas de áreas diferentes é um desafio que, segundo Marson, “nos obriga a rever os próprios conceitos”. A iniciativa do Redoxoma também tem um papel formativo para os jovens cientistas.

O Vai Lá no Meu Pôster é produzido pelas pós-doutorandas Ana Bonassa e Laura de Freitas, ambas do IQ e do Cepid Redoxoma. Elas mantém o canal de divulgação científica Nunca Vi 1 Cientista, e, em breve, também vão mostrar no canal pesquisas do Redoxoma. Nesta primeira fase do projeto foram gravados nove vídeos, que são postados semanalmente no canal. Nova chamada está programada para o início de outubro.

Consequência dos cortes

Como iniciativa institucional, a campanha “Ciência, pra que ciência?”, lançada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), já recebeu mais de 60 vídeos nos quais os participantes contam como os cortes no orçamento da Capes e do CNPq, principais agências de fomento à ciência do Brasil, irão comprometer o futuro de pesquisas importantes para o desenvolvimento do País.

Os vídeos estão sendo publicados diariamente nas redes sociais da SBPC e disponibilizados também em uma playlist da TV SBPC, no YouTube. Para quem quiser participar, basta gravar um breve vídeo, com duração de 30 segundos a um minuto, acessar este link, preencher um breve formulário e seguir as instruções para carregá-lo. O depoimento pode ser gravado em celular mesmo, em alta definição, com o aparelho na horizontal.

A campanha também soma forças às intensas manifestações que a SBPC, com apoio de outras entidades científicas do País, vem realizando em defesa dos recursos para a viabilização da Ciência no Brasil, como o abaixo-assinado online #SomosTodosCNPq. A petição foi entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, na última quarta-feira, 28 de agosto e já recebeu quase 1 milhão de assinaturas. Ela continua disponível neste link para quem ainda quiser assinar.

Mais informações:

E-mail mceliawider@gmail.com, com Maria Célia Wider, assessora de Comunicação do Cepid Redoxoma

E-mail 1minutodeciencia@gmail.com, com os pesquisadores responsáveis pela campanha #1MinutodeCiência

Com informações de Natália Albuquerque, Maria Célia Wider e da SBPC

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