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Gols por árvores, candidatura ao parlamento, escassez de água – conheça mais jovens ambientalistas ao redor do mundo
Meio ambiente

por | 8 nov 2021

Quarta parte da série traduzida do Guardian traz mais cinco ativistas

O Ciência na Rua traz hoje mais cinco histórias de jovens ativistas pelo clima publicadas em outubro pelo jornal inglês The Guardian. Conforme a COP26 se desenrola em Glasgow, na Escócia, o contraste entre a percepção aguçada desses personagens e o teatro oficial das autoridades na conferência vai ficando mais marcado, como se pode notar na constatação de que lobistas de combustíveis fósseis estão muito bem representados no evento, ou na atenção talvez exagerada dada ao carismático ex-presidente americano Barack Obama, alvo de crítica da ativista brasileira Txai Suruí em reportagem da Folha de S. Paulo: “É muito contraditório o Obama vir falar para os jovens, quando antes disso éramos nós que estávamos falando para ele que não aceitamos mais falsas promessas”.

 

Mya-Rose Craig, 19, Reino Unido

Mya-Rose Craig tinha apenas nove dias quando foi pela primeira vez observar aves perto de sua casa em Bristol. “Meus pais e minha irmã mais velha eram grandes observadores de aves. Não me lembro de uma época em que não gostasse de aves”, diz ela. Ela tem postado em seu blog sobre aves sob o nome Birdgirl desde os onze anos e postado no Twitter como @BirdgirlUK desde os doze. “Foi quando comecei a me apaixonar por questões ambientais, especialmente mudanças climáticas”, diz ela.

Foi também nessa época que ela começou a perceber algo sobre os espaços ao ar livre. “Minha mãe é de Bangladesh, e minha irmã e eu somos meio bengalis. Percebi então que, no interior, no campo, nunca vi alguém que se parecesse com a gente. Ao examinar esse fato, entendi que não era nada superficial — era a exclusão sistêmica ligada à conservadora constituição racial dos corpos e ao preço de estar na natureza, entre outras coisas. Conversando com meus primos, me conscientizei de que observar pássaros e estar ao ar livre são atividades vistas por pessoas não brancas como hobbies de gente branca.”

Craig fundou a Black2Nature, uma organização sem fins lucrativos que luta por um acesso à natureza igualitário e para todos, além de administrar acampamentos e atividades na natureza para pessoas do campo tradicionalmente excluídas, e desenvoler campanhas para tornar etnicamente diversos a conservação da natureza e os setores ambientais. Seu ativismo lhe rendeu uma plataforma na televisão (Springwatch, Countryfile) e rádio (Start the Week) e um título honoris causa em ciências pela Universidade de Bristol.

Agora com dezenove anos e estudando na Universidade de Cambridge, Craig acaba de publicar We Have a Dream [Nós temos um sonho], um livro de entrevistas com trinta jovens ativistas ambientais não brancos — “pessoas que não estavam recebendo da mídia a plataforma que merecem”.

Se você pudesse fazer uma mudança…
“Eu obteria uma ação genuína de nossos líderes, agora mesmo.”
(por Lisa O’Kelly)

 

Iris Duquesne, 18, França

Chamada de “a Greta Thunberg da França” pela mídia francesa, Iris Duquesne tinha dezesseis anos quando se juntou a quinze outros adolescentes ativistas do clima, incluindo a própria Thunberg, no final de 2019, para levar às Nações Unidas uma histórica ação legal contra França, Brasil, Alemanha, Turquia e Argentina. A acusação deles — de que esses países estavam violando seus direitos enquanto crianças por não tomarem medidas suficientes contra a mudança climática — repercutiu em todo o mundo.

Na semana passada [nota: o texto original é de 17 de outubro], a ONU declarou que era incapaz de julgar o caso, dizendo que os jovens deveriam primeiro abrir processos em nos tribunais de cada um dos cinco estados, apesar de inúmeros casos mostrarem que nenhum desses procedimentos obteria sucesso. Falando por meio de sua equipe jurídica na organização sem fins lucrativos Earthjustice, Duquesne disse: “Estamos todos muito desapontados, mas não estamos surpresos, infelizmente. Temos visto governos e autoridades ignorarem a crise climática repetidamente, e hoje não foi exceção. A luta por justiça climática não acabou e continuaremos pressionando com ou sem a ajuda do Comitê.”

Se você pudesse fazer uma mudança…
“Eu usaria a educação em todo o mundo para incutir um verdadeiro senso de responsabilidade climática na próxima geração.”
(por LO’K)

 

Jakob Blasel, 21, Alemanha

Os cachos loiros de Jakob Blasel têm sido uma presença marcante nos protestos do Fridays for Future [Sextas-feiras pelo Futuro] na Alemanha, desde que o então jovem de dezoito anos organizou a primeira greve no país motivada pelo clima, em frente ao parlamento regional em Kiel, em dezembro de 2018. Ele provou ser um organizador astuto e um motivador apaixonado, reunindo alunos por meio de grupos de WhatsApp ou espalhando mensagens na calçada do lado de fora das escolas.

“Desde o início, foi muito importante para mim que as Fridays for Future não fossem apenas compostas por crianças que já se preocupavam com questões ambientais”, diz ele. “Tratava-se de iniciar um movimento que falasse a uma geração inteira.”

Três anos depois, Blasel batia às portas do Bundestag em Berlim: como candidato do Partido Verde em seu distrito eleitoral natal em Schleswig-Holstein, o estado mais ao norte da Alemanha, ele obteve 23.831 votos nas eleições federais de setembro, por pouco não se elegendo ao parlamento através da lista do partido.
O mais velho de três irmãos, Blasel diz que estava vagamente ciente das mudanças climáticas quando criança. “Mas foi só quando eu tinha 15-16 anos foi que a crise climática se tornou algo que me causou angústia.”

Em 2017, ele assistiu a um documentário norueguês sobre a indústria têxtil global. “Como podia ser, me perguntei, que meus colegas adolescentes e eu estávamos usando roupas que foram produzidas em condições desumanas no hemisfério sul do planeta? A partir daí, passei a pensar sobre como as roupas poderiam ser produzidas de forma não apenas socialmente mais justa, mas também ambientalmente mais sustentável”.

“Os políticos ainda estão contando contos de fadas; eles acham que a tecnologia resolverá magicamente a mudança climática”

O adolescente passou a usar mais roupas de segunda mão e convenceu seus pais a substituírem a eletricidade de casa por uma de fonte renovável. “Mas houve um momento em que essa abordagem atingiu um limite: mesmo se eu mudar meu comportamento como consumidor, ainda estaremos caminhando para uma crise ecológica e social. Se eu realmente me importava com fazer a diferença, percebi que precisava adotar uma abordagem política.”

Em sua campanha e nas redes sociais, Blasel se descreve como um “ultra 1.5C”, termo geralmente empregado por torcedores fanáticos por futebol. “Talvez seja uma piada”, diz ele, “mas em termos de política real, significa que estou convencido de que todos os esforços possíveis precisam ser feitos para limitar o aquecimento global a 1,5 °C.

“Agora vejo muitos políticos percebendo que precisamos ter metas climáticas mais ambiciosas. Mas eles ainda estão contando histórias da carochinha sobre como chegaremos lá: que a tecnologia resolverá, como num passe de mágica, a mudança climática; que só precisamos deixar isso para o mercado. Nós já temos essas tecnologias, só precisamos usá-las. E no momento isso não está acontecendo na medida certa.”

Blasel diz que sua candidatura ao Bundestag o fez entender melhor por que o debate político sobre a crise climática estagnou e como esse debate poderia começar a se mover novamente. “Ser um ativista significa colocar constantemente os seus próprios interesses em primeiro plano, enquanto a arte de ser um político consiste em conciliar interesses diferentes.”

O Partido Verde alemão pode ter um papel fundamental no próximo governo, como um dos três parceiros da coalizão em um acordo de divisão de poder com a esquerda liberal. Blasel diz que está planejando voltar à sua antiga posição de ativista para lembrar ao partido suas promessas enquanto as negociações de coalizão estão em andamento. “Vou continuar dando o meu melhor para enfrentar a crise climática. Se faço isso no parlamento ou como ativista, é quase irrelevante.”

Quem é o seu herói do clima?
“Stefan Rahmstorf, o climatologista alemão que foi um dos primeiros cientistas a revelar a dimensão dramática da crise climática.”

Solar ou nuclear?
“Solar. As pessoas não se sentem seguras perto de usinas nucleares. Não acho que a maioria das pessoas que ainda estão pregando sobre a energia nuclear tenha refletido sobre seu posicionamento. ”

Se você tivesse o poder de fazer uma mudança para ajudar a resolver a crise climática, qual seria?
“A mudança para a energia renovável deve ser a base de cada passo que damos para enfrentar a crise.”
(por Philip Oltermann)

 

Disha Ravi, 22, Índia

Disha Ravi sentiu a mudança climática muito antes de saber o que era, ainda criança, na Índia rural. “Meus avós são agricultores e enfrentaram escassez de água; minha mãe tinha que carregar água do poço comunitário antes de sair para a escola, e nenhum de nós sabia que isso era resultado da crise climática. Só quando eu tinha dezoito anos entendi isso — e a inação de nossos líderes.”

Ravi foi cofundadora do braço indiano do Fridays for Future em 2019 e passou dois anos organizando workshops, mutirões de limpeza e plantio de árvores. Ela também é responsável pela renda da família, com seu emprego em uma empresa de comida vegana em Bengaluru, onde mora com sua mãe.

Uma campanha que lhe interessou foi o protesto dos agricultores indianos, em 2020-2021, quando um conjunto de leis agrícolas que pareciam favorecer as corporações em detrimento de agricultores gerou um grande clamor na Índia, especialmente em relação aos preços mínimos dos produtos. Quando Greta Thunberg tuitou sobre a campanha em fevereiro, foi Ravi quem ganhou as manchetes internacionais. Ela foi presa por insurreição e conspiração criminosa e levada para Déli, onde ficou detida por dez dias. A polícia disse que um kit de ferramentas para redes sociais que Ravi editou para a campanha causou insatisfação e desinformação.

Ravi não pode discutir publicamente seu caso legal em andamento, mas seu espírito de campanha não diminuiu. “Eu vi minha própria casa encher-se de água em uma cidade sem litoral, árvores cortadas para aumentar o pib e veneno liberado em rios enquanto as empresas não são responsabilizadas. Eu me recuso a deixar isso continuar para os outros.”

Se você pudesse fazer uma mudança…
“As pessoas na Índia enfrentam a crise climática diariamente, mas o acesso à ciência mais recente em torno do meio ambiente ainda é limitado às escolas particulares de elite. A educação trará consciência e a ação climática de que precisamos.”
(Por AF)

 

Lesein Mutunkei, 17, Quênia

Lesein Mutunkei tinha doze anos quando decidiu que, para cada gol que marcasse no futebol, plantaria uma árvore. Ele percebeu que a ideia poderia se tornar algo grandioso — afinal, “a crise climática é um problema universal, e o futebol é um jogo universal”. Ele inscreveu sua escola em Nairóbi e começou o movimento Trees for Goals. Em 2019, aos 14 anos, ele foi para o Ministério do Meio Ambiente do Quênia, e o esquema tornou-se nacional. Este ano, ele é finalista do prêmio Children’s Climate [Clima das Crianças].

Se você pudesse fazer uma mudança…

“Eu garantiria que a Fifa, todas as ligas, clubes e escolas e 3,5 bilhões de fãs em todo o mundo assumissem o Trees for Goals e usassem o poder do futebol para combater o desmatamento, que é o segundo fator que mais contribui para as mudanças climáticas.”
(Por AF)

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