Fabián Rojas, Revista la U
tradução: Tiago Marconi

Equipe de pesquisadores
Foi descoberto em Ischigualasto (província de San Juan, noroeste da Argentina) o que os paleontólogos denominam bone bed (leito ósseo), ou seja, uma acumulação de fósseis, ossos colados entre si em um espaço em torno de quatro metros quadrados. Sua profundidade ainda não está definida, mas calcula-se que pode haver no mínimo um metro de vestígios. É a primeira vez que se consegue uma descoberta desse tipo, e o mais importante é que esses fósseis proveem informação referente a um período de quase 20 milhões de anos, situados entre dois períodos paleontológicos estudados. Resgatados em bloco, tal como jazem hoje no sítio, serão expostos no Museu de Ciências Naturais que se está construindo em San Juan. Ricardo Martínez, pesquisador do Instituto e Museu de Ciências Naturais (IMCN) da Universidade Nacional de San Juan (UNSJ), disse: “Ainda não sabemos com certeza de que animais são os ossos. Há seis ou sete dicinodontes, supomos que do gênero Jachaleria, e dois ou mais carnívoros grandes do tipo dinossauro, certamente espécies desconhecidas para a ciência”.
O paleontólogo destaca o intervalo em que se pode situar o achado. Esses vestígios de animais pertencem a um período situado entre a fauna da formação Ischigualasto (231 milhões de anos), era dos dinossauros mais antigos, antecessores dos crocodilos e mamíferos, e a fauna da formação de Los Colorados, no extremo leste de Ischigualasto, em que os dinossauros já eram mais abundantes, época dos grandes saurópodes, enormes animais de quatro patas (213 milhões de anos). A descoberta está no meio dessas duas faunas: data de cerca de 220 milhões de anos (período Triássico), tendo por isso o valor científico de fornecer informação sobre a transição da faunda entre os períodos de Ischigualasto e de Los Colorados.
Uma pérola
Ricardo Martínez explica a preciosidade da descoberta: “Nunca encontramos algo assim, em Ischigualasto ou fora deste sítio”. E agora encontraram, tudo junto em uma discreta superfície, pelo menos sete mandíbulas de diferentes animais e um crânio que mede uns 40 centímetros, todos vestígios de animais grandes, de quatro patas. “São ossos de herbívoros, em sua maioria, que são os dicinodontes, mas há também de um animal carnívoro”, aponta o pesquisador.
A peça de museu
Atualmente, os paleontólogos trabalham na fase mais detalhada do resgate dos fósseis, cuja descoberta foi em setembro passado, quando a equipe do IMCN estava em campo nesse sítio muito conhecido como Vale da Lua (Valle de la Luna). “Vi um osso que não estava destruído pela erosão e comecei a pincelar durante muito tempo. Então apareceram mais e disse ao resto da equipe ‘venham aqui’. Assim fomos expondo os ossos até que em um momento paramos e fizemos uma cobertura para protegê-los das chuvas. Agora é preciso realizar um trabalho complexo, de engenharia, para tirar o bloco completo com os fósseis”, relata Martínez. Extrair ossos por osso, explica, seria muito importante cientificamente, mas se perderia uma peça de museu que no IMCN consideram muito valiosa. Por isso, o pesquisador do IMCN da Faculdade de Ciências Exatas, Físicas e Naturais da UNSJ conclui: “Temos que compatibilizar ambos os aspectos: possivelmente perderemos um pouco de informação científica, mas a Província vai ganhar com a exibição de uma peça única”.
Acumulados:
É difícil saber a causa da acumulação de ossos. “Talvez tenha se devido a uma grande seca que reuniu distintos animais ao redor de uma pequena lagoa. Essa lagoinha em meio a uma seca depois deve ter diminuído e os animais foram se amontoando. Assim talvez tenha chegado um momento em que começaram a morrer de sede e fraqueza e ficaram ali”, deduz Ricardo Martínez.