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Experimento com final feliz

por | 7 dez 2022

por Thaciana de Sousa Santos

Na base da tentativa e erro, o caminho estava mesmo na dilatação linear, conta colunista

Hoje eu vou compartilhar com vocês um relato do experimento eletivo que fizemos na aula de física experimental.

Bom, já foi um dilema escolher qual seria o bendito experimento. Foram dadas algumas opções, mas acho que nada nos agradou na verdade. O negócio era inovar, pensar fora da caixa, mas seria um pouco difícil (seria, não, realmente foi muito difícil) ter tudo o que precisávamos, principalmente sabendo-se que estamos no primeiro ano.

Conversa vai, conversa vem, o Giovanni deu a ideia de identificar múons através de raios cósmicos e eu fiquei sem entender, achei muito à frente do nosso tempo. Dei uma pesquisada meio que por cima, porque eu nem sabia o que todas essas palavras significavam (e ainda não sei). Múon é uma partícula elementar parecida com o elétron, com carga negativa e é produzida a partir da interação da atmosfera da Terra com os raios cósmicos, que são outras partículas menos fundamentais.

Então, ele queria usar essa interação para detectar múons, e eu realmente não faço a mínima ideia de como faria isso. Não tínhamos nenhum suporte para isso. Aí o professor, com a maior calma, começou a perguntar como faríamos, como saberíamos realmente o que era,  e foi perguntando até desconstruir essa ideia, que realmente não era a ideal (ainda), vamos deixar para o mestrado dele.

Depois, para seguir na ideia do que estamos estudando em física, decidimos calcular a constante dos gases ideais, que é 8,314. Em algum momento, no ensino médio, já nos havia sido apresentado o famoso PV=nRT, mas isso foi em química. P é a pressão, V é o volume, n é o número de mol (lembrou de química, né?) e T é a temperatura. R é uma constante, igual para todas as contas, todos os gases ideais, e era justamente ela, que queríamos encontrar.

O experimento quase que vingou, era mais palpável do que o outro, mas não deu certo. Não tinha tudo o que precisávamos no laboratório. Falaram que era muito mais um experimento para química do que para física e, mais uma vez, não conseguimos o que realmente queríamos.

Passamos uma aula toda procurando o que realmente dava para fazer, com o que tivesse no laboratório, e que não levasse ninguém a falar que não daria certo. Não era possível tudo estar tão errado assim. Mas nada realmente nos agradava, era tudo meio sem graça ou alguém já estava fazendo e não queríamos repetir.

Depois de muito tempo perambulando entre as salas, decidimos o experimento. Agora nada mais dava errado. Fizemos um experimento sobre a dilatação linear de duas barras. Vou contar como foi, mas antes, preciso explicar que cada material, como alumínio e ferro, possui um coeficiente de dilatação que determina o seu comportamento quando sofre variação de temperatura. E para calcular a dilatação linear usamos a fórmula ΔL=LoαΔT, em que a variação de comprimento é igual ao comprimento inicial multiplicado pelo coeficiente e pela variação de temperatura.

Primeiro, medimos o comprimento de duas barras, descobrimos de quais materiais eram feitas e, em seguida, colocamos em uma base própria e começamos a esquentar, usamos algo meio parecida com um secador, mas era um soprador térmico, e o relógio comparador marcou a variação de comprimento.

Chegamos a temperaturas que variavam em torno de 150°C, então as barras estavam muito quentes, e a preocupação do professor era se nós íamos colocar fogo em mais alguma coisa. Não colocamos fogo em mais nada, deu tudo certo e agora estamos montando o relatório e fazendo um slide para apresentar um seminário. Mesmo feliz com o final do semestre, estou triste porque não terei mais aula com esse professor, e foi justamente ele que me inspirou a continuando tentando seguir o curso.


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

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