- Foram comparados os ganhos, antes e depois da concessão de crédito, de 8.722 microempreendedores e microempreendedoras dos estados do Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco
- Com microcrédito, aumento médio da receita de mulheres empreendedoras é quase 40% superior ao dos homens
- Pesquisa, feita por aluna do Colégio Etapa com suporte do Insper, mostra que as mulheres representam cerca de dois terços dos microempreendedores do país
Instrumento essencial para a inclusão social e econômica, ao permitir que proprietários de microempresas tenham acesso a capital de giro para desenvolver seus negócios, a concessão de microcrédito também pode contribuir para a redução da desigualdade de gênero. Pesquisa realizada pela estudante Aine Carolina Lima, de 17 anos, que cursa o 2º ano do Ensino Médio no Colégio Etapa, em São Paulo (SP), mostrou que, após conseguir crédito, o aumento do faturamento de microempreendedoras foi de 19,9%, frente a 14,6% dos homens. O estudo, que teve orientação do Insper, foi publicado no “Journal of Student Research (High School Edition)”, uma das principais revistas internacionais voltadas para alunos de iniciação científica.
Para avaliar o impacto do microcrédito na receita de microempreendedores, de modo geral, e, comparativamente, nos negócios administrados por homens e mulheres, considerou-se os dados de 8.724 microempresários e microempresárias de quatro estados do Nordeste do país — Maranhão, Ceará, Paraíba e Pernambuco — que tiveram empréstimos concedidos pela Avante, fintech especializada em microcrédito. Foram comparadas as receitas que esses microempresários e microempresárias declararam em dois momentos distintos — durante o processo de avaliação para concessão do crédito e após a conclusão do pagamento e solicitação da renovação do financiamento. Esses rendimentos, por sua vez, foram confrontados aos de 4.270 microempresários (grupo de controle) que também solicitaram crédito no mesmo período, mas não tiveram o pedido aprovado.
Todas as informações usadas no estudo foram declaradas pelos microempresários e microempresárias nas entrevistas realizadas para a concessão de crédito. Do total dos 8.724 microempresários considerados, mais de dois terços eram mulheres, proporção condizente com as estatísticas de empreendedorismo no país. Em relação aos ramos de atividade, os segmentos de cosméticos e vestuário concentraram mais mulheres, enquanto a presença masculina foi maior na área supermercadista. Quanto ao crédito concedido, o valor destinado às mulheres (R$ 2.737,36) foi, em média, 10,8% inferior ao dos homens (R$ 3.070,12). Na comparação das receitas por setor, mesmo nos segmentos em que elas representam a maioria, eles faturam mais, sendo que no mercado de vestuário, por exemplo, essa diferença foi de 20,2%.
Na análise dos rendimentos dos dois grupos, verificou-se que a concessão de crédito teve consequência positiva na receita daqueles que conseguiram o empréstimo (incremento de 6,7%) em relação ao grupo de controle (aumento de 2,6% no período). No recorte por gênero, os resultados mostraram que o aumento médio da receita das microempresárias foi 39,37% superior ao dos homens — em Pernambuco e na Paraíba essa diferença chegou a 55,98% e a 63,05%, respectivamente.
Aine conta que sempre quis trabalhar com impacto social, e o estágio de seis meses que realizou na Avante, durante o 1º ano do ensino médio, possibilitou a realização da pesquisa. “Tive a oportunidade de, além de aprender estatística como em uma faculdade, conhecer o mundo do microempreendedorismo. Pensei que, com o estudo, eu poderia mostrar às pessoas a força que os microempreendedores têm, principalmente as mulheres”.
Ela considera os resultados surpreendentes. “Vimos que as mulheres, apesar de representarem a maior parte dos clientes da empresa [Avante], apresentam um faturamento significativamente mais baixo do que os homens. Mas, após receberem os empréstimos, possuem um aumento do faturamento maior do que o deles”, destaca.
”Se mais pessoas soubessem do impacto positivo que o microcrédito tem na vida dos empreendedores, muitos projetos e políticas públicas poderiam ser implantados”, completa a estudante, que pretende estudar engenharia nos Estados Unidos. Atualmente, ela está desenvolvendo um aplicativo para ajudar microempreendedores a controlarem suas vendas.