Por Luiza Moura
O influenciador Agenor Tupinambá foi corretamente autuado pelo Ibama, que cumpre um papel fundamental na reconstrução da política ambiental brasileira, diz colunista
Capivara Filó. Certamente, você ouviu esse nome nas últimas semanas. Foi a grande polêmica da internet. Trata-se do caso do influencer Agenor Tupinambá que vivia com uma capivara, chamada de Filó, e que a tratava como um pet, um animal domesticado. O influenciador foi, corretamente, autuado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que o multou e recolheu a capivara para que ela pudesse ser avaliada e, possivelmente, no futuro, reinserida na natureza. A história tomou proporções gigantescas, com milhões de defensores da capivara se posicionando contra o Ibama e atacando o órgão nas redes sociais, e até na porta da sede do Instituto.
Diferentes argumentos foram utilizados para descredibilizar o órgão, que cumpre um papel fundamental na reconstrução da política ambiental brasileira. De condições ruins nas instalações do Ibama, até a fofura da capivara, não foram poucos os tweets, posts, stories e vídeos criticando a postura do instituto que, no discurso dessas pessoas, “deveria se preocupar com coisas mais importantes, já que a capivara estava feliz e vivendo em seu habitat natural”.
Nesse sentido, é fundamental reiterar: a postura do Ibama é correta. A legislação ambiental brasileira existe por um motivo e ela deve ser cumprida. O fato de a capivara ser fofa ou conhecida na internet não pode ser uma justificativa para que seu dono não tenha os documentos necessários ou as autorizações legais para ter um animal selvagem em casa. E aí está outro ponto fundamental: capivara não é pet. Não é bicho domesticável. Não é um animal feito para o ambiente doméstico, para ser tratada com shampoo e com pasta de dentes.
Além disso, há um terceiro ponto que deve ser dito, e que é fundamental. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Ibama, é ponto central e crucial na reconstrução da política ambiental brasileira. Nos últimos anos, o órgão foi completamente desestruturado, seus fiscais foram demitidos, perseguidos e descredibilizados. As operações diminuíram e as consequências disso foram sentidas na prática. Reconstruir o Ibama e credibilizar seus trabalhadores e suas ações é completamente necessário para que o Brasil possa reconstruir suas políticas ambientais, protegendo sua fauna e sua flora.
O que precisa ser compreendido é que, questionar a autoridade do Ibama ou o comprometimento do instituto é uma tática bolsonarista para continuar atacando as instituições públicas brasileiras. Continuar com a política de desmonte e de destruição que aconteceu nos últimos seis anos e que tornou o Brasil um pária ambiental. Fato é que os deputados bolsonaristas, que hoje em dia surfam na onda da polêmica e criticam o Ibama, nunca destinaram recursos para o órgão, nunca se preocuparam com a proteção ambiental. Ao contrário, muitos deles foram responsáveis por aprofundar a política destrutiva dos últimos tempos.
Por isso, defender o Ibama, mesmo achando a capivara fofa (e lembrando de todos os problemas de se ter um animal desse em um ambiente doméstico), é função de todos que defendem a pauta ambiental e socioambiental. É dever de ativistas, sustentabilistas, da sociedade civil e de democratas, de forma geral. Compactuar com a descredibilização e com os ataques ao instituto é, sem sombra de dúvidas, questionar a tentativa de reconstrução do país. Deixem o Ibama trabalhar. Não caiam em provocações e narrativas falaciosas criadas por bolsonaristas. O trabalho deste órgão é fundamental e necessário, em todos os sentidos possíveis.
Luiza Moura é estudante de relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental