por Thaciana de Sousa Santos
Intrigante é a graduação emergir como o grande obstáculo rumo ao sonho
Existem muitos motivos pelos quais os jovens escolhem as suas carreiras: admiração, sentimento de representatividade, desejo de melhorar o futuro, entre outros. Mas, nas ciências da natureza, é (quase) sempre uma questão de responder às próprias curiosidades. Entender como algo funciona e por que é de tal jeito ou tentar desbravar um mundo inteiro de possibilidades. As minhas curiosidades me levaram ao rumo de hoje, mas não fui a única. Perguntei a dois amigos da faculdade o que os motivara, e cada um tinha sua pergunta que precisava de respostas.
Giovanni Chakmakian Nigro, de 17 anos, sempre estudou em escola particular e entrou na USP na modalidade ampla concorrência. Ele conta que decidiu cursar física por sua curiosidade e paixão por buracos negros. Um mundo ainda sem muitas respostas, pois não se sabe exatamente o que tem dentro deles e, por ora, talvez seja bom continuar assim. Já a Carina de França Nonatos, de 21 anos, estudou em escola pública, com o ensino médio integral na cidade de Guarulhos, e entrou na USP (novamente) com cotas raciais, o PPI. Ela queria ser astronauta (quem não queria?), mas decidiu seguir na física, para estudar o interior de estrelas e eletricidade.
Desde já, ambos desejam seguir na Astrofísica. Giovanni mais focado em cosmologia e Carina na extragaláctica. Mesmo sendo o primeiro ano de curso, eles já sabem qual rumo querem seguir e quais os passos depois da graduação.
Já as expectativas para os próximos quatro anos, não são grandes. Querem se formar, um semestre de cada vez, nada muito além, sem muitos pensamentos distantes. Apenas sobreviver ao momento. Carina tem a expectativa de, pelo menos dessa vez, se formar. Ela já entrou no curso três vezes e, por problemas de saúde e dificuldade de acompanhar as aulas on-line na pandemia, foi “jubilada”.
Para o futuro distante, ela já tem sonhos, quer ajudar a mandar o máximo de pessoas que puder para fora do planeta. Mesmo não conseguindo ser astronauta, vai se sentir realizada. Giovanni ainda não pensou tão longe, ele quer fazer um pós-doutorado fora do país e até, disse em nossa conversa, pediu uma bolsa de estudos para o ex-presidente Lula.
Eles ainda são novos, cheios de paixão e curiosidade pela ciência. Ainda há muito o que viver até o fim da graduação. Mesmo seguindo caminhos diferentes, têm algo em comum, a física. Para as suas perguntas, encontraram na física uma forma de obter respostas. Claro que ainda há um longo caminho para percorrer, mas já começaram.
A ciência não é exclusivamente dos gênios, é claro que eles existem, mas são poucos. Os cientistas, em sua maior parte, são pessoas curiosas que resolveram não seguir o caminho mais simples. Giovanni comentou que a família queria que ele fizesse engenharia, porque daria dinheiro, mas não era o que queria. Até eu queria seguir na engenharia, mas não era o que gostávamos, eu nem ele.
A mãe da Carina provavelmente gostaria que ela seguisse medicina, já que é o sonho dela própria. A minha mãe só queria que fizesse algo que desse dinheiro, ninguém quer morrer pobre. É claro que não vamos ter um patrimônio igual ao do Silvio Santos, mas vamos viver confortavelmente seguindo os nossos sonhos.
É óbvio que não é física por amor, mas é física com amor, às vezes com um pouco de ódio, já que (palavras deles) mecânica clássica é extremamente entediante.
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua