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Conheça mais quatro jovens ambientalistas de diferentes países
Meio ambiente

por | 4 nov 2021

Na terceira parte do especial, um irlandês, uma inglesa e duas indonésias contam sobre seus ativismos

Cartazes de protesto dizem: “Nossa casa está em chamas”, “Açnao pelo clima agora” e “Nem um grau a mais, nenhuma espécie a menos”

Após a vitória representada pelo acordo assinado entre 96 países para a redução das emissões de metano, ainda durante a Reunião de Cúpula, as negociações na COP26 prosseguem com a questão do financiamento público e privado às políticas destinadas a alcançar os compromissos do Acordo de Paris como uma das chaves mais cruciais para enfrentar, de fato, o aquecimento global e as mudanças climáticas dele decorrentes. Vale acompanhar o movimento de coalizões e promessas de financiamento nos próximos dias.

Enquanto isso, o Ciência na Rua publica hoje, com mais três depoimentos, a terceira parte da reportagem do jornal britânico The Guardian sobre 20 jovens ativistas pelo clima ao redor do mundo e o que concretamente eles vêm fazendo para mudar um futuro cheio de ameaças à vida na Terra.

 

Melati, 18 anos, e Isabel Wijsen, 20, Bali

Foi uma lição escolar sobre Nelson Mandela e Martin Luther King que levou as irmãs Melati e Isabel Wijsen a pensarem sobre como poderiam mudar o mundo. E em 2013, com 10 e 12 anos respectivamente, elas lançaram a Bye Bye Plastic Bags, uma iniciativa voltada a estancar o uso de sacolas descartáveis, hoje ativa em 30 países. “Começou a crescer organicamente”, explica Melati, agora com 20 anos. “Os jovens puderam ver um exemplo da vida real do que era possível.”
A campanha das garotas foi exemplar. Eles começaram fazendo folhetos educacionais para explicar os perigos da poluição marinha e montando um projeto-piloto para uma cidadezinha livre de plástico. Em seguida, fizeram um vídeo tutorial sobre como fazer uma barreira de material reciclado em um rio para prevenir que o lixo alcance o mar e um esquema empresarial social que empregava moradoras locais na confecção de sacolas reutilizáveis. Em 2018, elas recorreram a uma greve de fome enquanto o governador de Bali não se reunisse para discutir a política governamental. Ele cedeu dois dias depois e, em 2019, as sacolas plásticas descartáveis foram banidas da ilha.

Agora, as Wijsens lançaram uma plataforma de aprendizagem online chamada Youthopia. “Tem masterclasses, workshops e monitoria. Queremos que se torne a sede mundial dos jovens agentes de mudança.” É difícil imaginar que não farão isso acontecer.

Se você pudesse fazer uma mudança…
“Eu adaptaria o sistema educacional para ensinar sobre esses problemas e criar espaços de inovação. Os jovens não recebem as ferramentas ou a orientação para pensar grande e criar novos sistemas.”
(por Alice Fisher)

 

Scarlett Westbrook, 17 anos, Reino Unido

Scarlett Westbrook é uma jovem de 17 anos com uma expressão aberta, sorriso amigável e tranças como cordas de sino. Seria natural supor – se você nunca a tivesse ouvido falar – que era uma colegial comum e não a formidável ativista pela justiça climática que ela é. Mas, aos 10 anos, Scarlett já estava participando de marchas e fazendo campanha nas eleições locais (na época, estava “realmente interessada” nas políticas climáticas de Ed Miliband). Ela cresceu no centro de Birmingham e seus pais, incentivadores – eles mesmos não vinculados qualquer partido político –, a acompanhavam enquanto batia às portas. Deve ter ficado claro, então, que Scarlett não nasceu para estar na vida a passeio.

Aos 13, ela se distinguiu ao passar em um A-level de governo e política – a pessoa mais jovem a conseguir esse feito [nota da ttradução: A-level é uma certificação de conhecimento em determinada disciplina conferida mediante uma prova, é utilizada para ingresso em universidades, mais ou menos o ENEM britânico]. Ela aprendeu sozinha em sete meses. Sua especialidade era clima e educação, o que a levou, em parte, a trabalhar mais tarde como membro da Rede de Clima de Estudantes do Reino Unido (UKSCN). Nem seus pais nem seus professores acreditaram em Scarlett quando ela disse que pretendia prestar o A-level, então Westbrook mandou um e-mail para a banca do exame… “Continuei discutindo até conseguir meu intento!” (Um talento útil para ativistas.)

Westbrook vem sendo uma das principais organizadoras das greves escolares em Birmingham e é a mais jovem “redatora regular de políticas” conhecida na história parlamentar. Venceu o prêmio “Mulher do Futuro Jovem Estrela” em 2020 e o prêmio Diana este ano, por seu trabalho humanitário. Scarlett é invariavelmente modesta sobre suas realizações – não quer se distrair do que mais lhe importa. Está à frente da Teach the Future [“Ensine o futuro”], a impressionante campanha liderada por estudantes, fundada por seu amigo Joe Brindle, que visa a transformar o sistema educacional britânico colocando o clima em seu centro. O movimento é responsável pelo “primeiro projeto de lei estudantil, o English Climate Emergency Education Act” e pela realização de uma recepção parlamentar, organizada e liderada por Westbrook para mais de 100 MPs e Lordes [parlamentares da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes]. O movimento garantiu o apoio de todos, exceto do DUP [Partido Unionista Democrático]. Westbrook argumenta que o clima deve ser “costurado como um fio de ouro em cada assunto”. E seu próprio pensamento mostra-se impressionantemente articulado: ela fala com eloquência sobre a crise climática em relação a capitalismo, colonialismo, desigualdade de gênero e pandemia.

Pesquisa da Teach the Future mostra que “apenas 4% dos estudantes sentem que sabem muito sobre [a emergência climática]”. Mas a percentagem dos preocupados é muito mais elevada (seis em cada dez dizem estar “extremamente preocupados”). Scarlett acredita que ação climática e forte apoio da comunidade costituem o caminho a seguir, acrescentando: “Nosso governo poderia escolher agir sobre o clima, mas está optando ativamente por não fazê-lo…”

Embora acredite na importância da ação individual, faz questão de enfatizar as chocantes estatísticas que revelam responsabilidade coletiva: “Cem empresas são responsáveis ​​por 71% das emissões [globais]”, diz, enquanto “todo o continente africano é responsável por apenas 2-3% das emissões.” Ressalta que 70% dos voos são realizados por 15% das pessoas. Ouvindo-a, flagro a mim mesma sonhando acordada com um dia em que ela poderia ser a mais incrível primeira-ministra. Mas quando pergunto se está planejando se tornar uma política, ela recua. “Absolutamente não. Eu quero especificamente ir para medicina. Quero ser uma cirurgiã humanitária de trauma, trabalhando em desastres naturais ou guerras para ajudar as pessoas. Com a crise climática, será um trabalho cada vez mais importante.”

Como você relaxa?
“Muitas vezes parece que o peso do futuro está sobre nossos ombros, então é realmente importante relaxar e passar tempo com as pessoas de quem você gosta para manter sua capacidade de agir e seu bem-estar.”

Solar ou nuclear?
“Solar!”

Se você pudesse fazer uma mudança …
“Eu implementaria um Green New Deal internacional, que visaria não apenas a descarbonizar a economia por meio de uma mobilização governamental de 10 anos, mas também a criar empregos e reduzir a desigualdade por meio de investimentos nas áreas mais necessitadas.”
(por Kate Kellaway)

 

Fionn Ferreira, 20, Irlanda

“Meus dois amores são explorar e inventar”, diz Fionn Ferreira, de 20 anos, que ganhou o principal prêmio global na Google Science Fair 2019 por seu trabalho na redução da poluição de plástico na água. Foi enquanto andava de caiaque pela costa de West Cork, onde cresceu, que Ferreira se deu conta do problema – não apenas grandes pedaços de plástico balançando nas ondas, mas microplásticos permeando a água ao seu redor.

Aos 15 anos, ele projetou seu próprio espectrômetro para medir a quantidade de microplásticos na água local – as leituras eram tão altas que a princípio ele pensou que a máquina estava quebrada. Em seguida, começou a encontrar uma maneira de removê-los. “Eu pensei, de que o plástico é feito? É feito de petróleo bruto. E por que o petróleo bruto flutua em cima da água? Porque a polaridade é diferente.” Ao adicionar magnetita ao óleo, ele descobriu que poderia atrair os microplásticos em uma amostra de água e remover a grande maioria deles com um ímã.

Agora, o estudante de química criou sua própria startup, Fionn & Co, e recebeu financiamento da Footprint Coalition de Robert Downey Jr para construir o protótipo de um dispositivo que pode filtrar mais de 90% dos microplásticos da água da torneira. Ele espera expandir a tecnologia para trabalhar com estações de tratamento de águas residuais e até na foz dos rios, enquanto deixa sua mente inventiva voar em outras direções também.

Ganhar prêmios e ser apoiado tão jovem deu a Ferreira a sensação de que a juventude não deve ser uma barreira para efetuar mudanças reais. “Sinto que precisamos de mais pessoas envolvidas em inovação e invenção em um nível pequeno, porque toda ideia tem o poder de fazer a diferença”, diz ele.

Se você pudesse fazer uma mudança…
“Precisamos fazer com que todos se apaixonem pelo meio ambiente e fiquem muito, muito bravos com o que está acontecendo com ele. Porque somente com todos a bordo, fazendo sua parte, podemos criar mudanças.”
(Por KF)

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