Luiza Moura apela ao chefe de estado, após as movimentações para favorecer o combustível fóssil
ilustração: Kairo Rudáh
Caro Presidente Lula, como vai o senhor? Espero que esteja tudo bem.
Te escrevo hoje porque acho que precisamos conversar um pouco sobre as questões socioambientais que estão envolvendo o nosso país. Sei que o senhor preza pelo desenvolvimento do país e quer que sejamos um país rico. Tudo bem, eu entendo e também quero o que é melhor para o povo brasileiro. Mas, senhor Presidente, com todo o respeito, esse desenvolvimento não pode estar atrelado à exploração de petróleo e a declarações que ataquem o Ibama.
O senhor disse, na semana passada, que o Ibama estava fazendo “lenga-lenga” no processo de licenciamento da exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Poxa, Presidente, vamos por partes. Primeiro, o senhor não acha problemático atacar um órgão de Estado, que tem todas as capacidades técnicas e as prerrogativas jurídicas, na tentativa de pressionar por uma licença para explorar um recurso natural que é, sabidamente, um dos principais causadores da crise climática??
Imagino que esteja acompanhando as notícias desta semana, né? O Brasil entrou na terceira onda de calor do ano. E ainda estamos no dia 19 de fevereiro. Isso sem contar as chuvas torrenciais que já aconteceram no país todo e deixaram centenas de pessoas sem casa, sem móveis e até sem vida. Será que vale mesmo a pena explorar mais petróleo? Não acha, senhor Presidente, que deveríamos estar caminhando para uma transição energética limpa, justa e democrática?
Na sua campanha, em 2022, os ambientalistas foram muito importantes para te eleger. Vimos no senhor a possibilidade de frear os retrocessos ambientais que foram gravíssimos no período de seu antecessor. Não nos arrependemos disso. Mas o senhor passou boa parte da sua campanha e dos meses após a eleição dizendo que o Brasil deveria dar o exemplo climático. E que queríamos ser pioneiros na pauta de clima e sustentabilidade.
Olha, senhor Presidente, com todo o respeito, entrar na Opep+, pressionar o Ibama pela liberação da exploração na Amazônia, dizer que o órgão está fazendo “lenga-lenga”, nada disso está entre as coisas que os ambientalistas querem. Nada disso condiz com as propostas de campanha que o senhor fez.
Já avançamos muito em relação ao que tínhamos, é inegável. As taxas de desmatamento na Amazônia caíram, os protocolos para queimadas têm sido intensificados e houve aumento de contingente tanto no Ibama quanto no ICMBio. Acho, presidente Lula, que de fato o senhor deveria repensar a questão do petróleo na Foz do Amazonas e em outras partes do Brasil. Ainda dá tempo.
Espero sua resposta!
Atenciosamente,
Luiza.
