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Adolescentes têm sono insuficiente, revela pesquisa
Saúde

por | 22 out 2019

Nossa Ciência
foto da home: freepik

Uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Sono e Ritmos Biológicos da Universidade Federal do Ceará (UFC), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, investigou as alterações na duração do sono e a sonolência diurna excessiva (SDE) em adolescentes de Fortaleza. Na adolescência, quando mudanças biológicas próprias da idade se associam a outras, de natureza comportamental e ambiental, costumam alterar o padrão de sono dos jovens.

O estudo integra a dissertação de mestrado defendida por Felipe Rocha Alves, sob orientação do Prof. Pedro Felipe de Bruin. O artigo referente à pesquisa foi aceito para publicação na Sleep Medicine, periódico científico oficial da Sociedade Mundial de Sono (World Sleep Society) e da Associação Pediátrica Internacional de Sono (International Pediatric Sleep Association), devendo ser publicado em breve.

Os resultados são preocupantes. Quase 55% dos adolescentes têm sono insuficiente, e em torno de 48% relataram sonolência diurna excessiva. A análise mostrou que os estudantes do período da manhã, da noite e do tempo integral tendem a dormir menos do que os da tarde. De acordo com o autor da dissertação, Felipe Alves, a redução da duração do sono pode trazer problemas para os adolescentes. “Diminui o estado de alerta, aumentando a sonolência diurna excessiva, consequentemente, podendo prejudicar o rendimento acadêmico dos jovens e ainda contribuir para o desenvolvimento de diversos problemas de saúde”, enumera o pesquisador, que atualmente segue no desenvolvimento da pesquisa no doutorado em Ciências Médicas, também na UFC.

Sono e aprendizagem

Uma das explicações para esse cenário é um fenômeno fisiológico que acontece na puberdade: o atraso normal da fase sono. “O adolescente tende a dormir um pouco mais tarde e a acordar um pouco mais tarde do que a criança”, explica Bruin. Além disso, segundo o professor, o tempo de sono considerado normal em indivíduos na faixa etária de 14 a 17 anos varia de oito a 10 horas. Acontece que, em geral, no Brasil o início das aulas no período da manhã começa cedo, por volta das 7h, 7h30min. “É muito relevante essa discussão sobre o horário de início das aulas, principalmente para essa população. É importante dizer isso, porque envolve outros grupos de pesquisa da instituição e outros profissionais, particularmente da área de educação. O horário de início das aulas no Brasil está na contramão do resto do mundo”, alerta.

Segundo Bruin, há ações e estudos recentes pelo mundo comprovando a necessidade de se fazer mudanças no horário escolar. “Tem um estudo realizado em Cingapura, publicado recentemente, em que eles atrasaram 45 minutos o início das aulas, de 7h30min pra 8h15min, e se verificou uma redução da sonolência, uma melhora do bem-estar e do rendimento dos estudantes”, cita. O professor mostra-se ainda preocupado com a escola de tempo integral, pois, além de os alunos acordarem cedo, não encontram espaço para um pequeno cochilo após o almoço, por conta até mesmo da falta de estrutura física dos colégios. Esse grupo, inclusive, relatou maior SDE (57,6%). Soma-se a esse quadro a situação ainda mais vulnerável dos jovens que trabalham (emprego propriamente dito e estágios), grupo no qual o sono de baixa duração foi mais frequente em relação aos que não trabalhavam: 63% contra 53,1%.

Uma das explicações para esse cenário é um fenômeno fisiológico que acontece na puberdade: o atraso normal da fase sono. “O adolescente tende a dormir um pouco mais tarde e a acordar um pouco mais tarde do que a criança”, explica Bruin. Além disso, segundo o professor, o tempo de sono considerado normal em indivíduos na faixa etária de 14 a 17 anos varia de oito a 10 horas. Acontece que, em geral, no Brasil o início das aulas no período da manhã começa cedo, por volta das 7h, 7h30min. “É muito relevante essa discussão sobre o horário de início das aulas, principalmente para essa população. É importante dizer isso, porque envolve outros grupos de pesquisa da instituição e outros profissionais, particularmente da área de educação. O horário de início das aulas no Brasil está na contramão do resto do mundo”, alerta.

Segundo Bruin, há ações e estudos recentes pelo mundo comprovando a necessidade de se fazer mudanças no horário escolar. “Tem um estudo realizado em Cingapura, publicado recentemente, em que eles atrasaram 45 minutos o início das aulas, de 7h30min pra 8h15min, e se verificou uma redução da sonolência, uma melhora do bem-estar e do rendimento dos estudantes”, cita. O professor mostra-se ainda preocupado com a escola de tempo integral, pois, além de os alunos acordarem cedo, não encontram espaço para um pequeno cochilo após o almoço, por conta até mesmo da falta de estrutura física dos colégios. Esse grupo, inclusive, relatou maior SDE (57,6%). Soma-se a esse quadro a situação ainda mais vulnerável dos jovens que trabalham (emprego propriamente dito e estágios), grupo no qual o sono de baixa duração foi mais frequente em relação aos que não trabalhavam: 63% contra 53,1%.

Outros fatores

O professor observa também o menor tempo de sono dos jovens do terceiro ano do ensino médio em relação aos estudantes do primeiro ano. “Existem várias hipóteses para isso. Uma delas pode ser a pressão para os exames de ingresso na universidade. Isso merece um estudo futuro”, pondera.

Outros fatores ligados tanto à baixa duração do sono quanto à sonolência incluem uma série de hábitos que potencialmente podem contribuir para um sono de má qualidade, como o chamado tempo de tela: o uso excessivo de mídias eletrônicas, a exemplo de TV e celular. A pesquisa mostrou tempo insuficiente de sono mais reportado entre aqueles jovens que usavam telefone celular antes de dormir em comparação aos que negaram essa prática (56,3% contra 49,7%).

A duração do sono foi avaliada por autorrelato. Fatores sociodemográficos (como sexo, idade, série, turno escolar e trabalho) e comportamentais (como atividade física, uso do celular antes de dormir e tempo assistindo à TV) foram investigados por questionário específico. O grau de sonolência diurna foi avaliado pela Escala de Sonolência de Epworth. “É interessante, nesse estudo, que os fatores estatisticamente relacionados com baixa duração do sono são praticamente os mesmos dos relacionados à sonolência. Como foi uma pesquisa transversal, e não longitudinal, a gente não pode falar de causa e efeito. Mas é relevante essa relação”, explica Bruin.

O grau de sonolência diurna dos adolescentes foi avaliado pela Escala de Sonolência de Epworth (Imagem: Felipe Rocha Alves).

Ampla pesquisa

Segundo os pesquisadores, trata-se de uma análise inédita do ponto de vista do tamanho da amostragem: 11.525 estudantes, entre 14 e 17 anos, do ensino médio da rede pública. “No Brasil, não há nenhum estudo com amostra desse tamanho. Existe um estudo europeu multicêntrico, publicado há alguns anos, que também envolveu 11 mil adolescentes, mas de toda a comunidade europeia. No ano que o nosso estudo aconteceu, em 2015, estima-se que em torno de 70 mil estudantes estavam matriculados nas escolas secundárias de Fortaleza. Onze mil representa um percentual bastante significativo”, afirma Bruin.

No momento, a equipe do Laboratório de Sono e Ritmos Biológicos da UFC se dedica à análise dos dados para avaliar tipos de intervenção, como a educação em saúde para essa faixa etária da população. “Estamos terminando a coleta. São estudos prospectivos. Que tipo de intervenção a gente pode fazer nessa população sobre esses fatores de risco identificados para melhorar esse quadro?”, descreve Bruin.

Outro objeto de estudo do laboratório ligado às questões do sono nessa idade é o chamado Jet Lag Social, quando os horários de deitar e levantar variam bastante durante a semana e os fins de semana. “É como se você viajasse três fusos horários, indo e voltando de Fortaleza para Lisboa toda semana. Isso tem repercussões importantes”, explica. De acordo com Pedro de Bruin, o Jet Lag em si é considerado um Distúrbio do Ritmo Circadiano do Sono, associado com uma série de problemas, como alterações gastrointestinais, endócrino-metabólicas e cognitivas, por exemplo.

Sonolência

A Sonolência Diurna Excessiva é uma manifestação de sono inadequado ou insuficiente que pode se dever a uma série de situações clínicas. O sono é um estado biológico, dividido em duas etapas: o sono de movimentos oculares rápidos ou REM e o sono que não é de movimentos oculares rápidos. O sono REM é associado aos sonhos e também à memória de longo prazo, portanto, tradicionalmente mais ligado ao aprendizado. “Um sono de qualidade tem de ter essa proporcionalidade entre sono REM e sono não REM. E é necessário também dormir com continuidade”, explica o professor.

De acordo com o médico, um sono fragmentado (com muitos despertares) está muito ligado à sonolência diurna. Uma das causas pode ser a chamada Apneia Obstrutiva do Sono, no qual o indivíduo faz pausas inspiratórias repetidas durante a noite. “É uma doença muito comum, afeta 30% da população adulta, mais comum em homens. Esses pacientes são roncadores e têm fechamento da via aérea superior durante o sono, levando à queda de oxigenação e ainda a pequenos despertares. O sono não evolui, não progride, não tem essa continuidade. Às vezes, dormem nove, 10 horas, mas acordam exaustos e sonolentos”. Esse distúrbio pode ser verificado através de exames, como a Polissonografia, equipamento utilizado no laboratório.

Laboratório de Sono e Ritmos Biológicos

O Laboratório de Sono e Ritmos Biológicos da UFC foi criado para estudar o sono em diversas situações clínicas e ainda investigar intervenções farmacológicas e não farmacológicas para melhorar a qualidade do sono. Segundo Pedro de Bruin, está bem claro hoje que o sono de curta duração e/ou de má qualidade está associado a doenças como diabetes, obesidade, síndrome metabólica, problemas cardiovasculares, acidentes, alterações e transtornos de humor, etc. “O sono é um aspecto fundamental, um pré-requisito para a saúde física e mental e para o bem-estar dos indivíduos. Tem uma interface importante com todas as áreas médicas”.

A Medicina do Sono, segundo o pesquisador, é um tema relativamente novo com pouco espaço no currículo das escolas médicas, apesar de sua relevância. Existem mais de 80 doenças do sono catalogadas, como Insônias (as mais frequentes), Distúrbios Respiratórios do Sono (nos quais a Apneia do Sono é a mais comum), Transtornos do Movimento durante o sono (como a Síndrome das Pernas Inquietas e o Bruxismo); Transtornos de Sonolência Central (como a Narcolepsia); e os Transtornos do Ritmo Circadiano (como o Jet Lag Social e o atraso da fase do sono patológica). “O sono é um tema fascinante, mas sobre o qual se fala pouco. Como nós estamos numa sociedade em que o importante é consumir e/ou produzir, produzir para consumir, consumir para produzir, como durante o sono a gente não produz e não consome, então se acredita que não é importante dormir. Os profissionais de saúde e a academia têm de chegar às pessoas para dizer que dormir é fundamental, é essencial”, defende.

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