Os governos do PT (Lula e Dilma) foram forte exemplo de representação dos interesses das classes dominantes, articulado a um projeto de melhoras pontuais, como o Bolsa-Família, para os assalariados e setores mais pobres. Enquanto o cenário econômico foi favorável, o pais parecia caminhar bem, mas com o agravamento da crise econômica, social e política, seu futuro é imprevisível. Já nas eleições de outubro de 2014 era possível perceber uma redução em seu apoio junto às frações burguesas, uma vez que o quadro recessivo antecipava a necessidade de mudanças profundas em sua política econômica para ajustar-seao novo cenário.
Não foi por outro motivo que, imediatamente após aquela vitória eleitoral, Dilma nomeou para Ministro da Fazenda Joaquim Levy, representante de um grande banco no Brasil. Sua tarefa era implementar um ajuste fiscal profundamente recessivo. Hoje, em março de 2016, pouco mais de um ano depois, o descontentamento empresarial tornou-se completo e converteu-se em forte bloco de oposição política ao governo, aumentando-se ainda mais os descontentamentos em todas as classes sociais, ainda que frequentemente por motivos opostos. Os escândalos de corrupção atingiram em cheio o governo do PT.
Nas classes médias, em seus setores mais conservadores – desde liberais, conservadores, até defensores da ditadura militar, passando por protofascistas e fascistas – há um verdadeiro ódio ao governo Dilma e ao PT de Lula. Nas camadas médias baixas, o desencanto é grande, pois os salários se reduzem, a inflação aumenta e o desemprego se torna crescente. O mito do projeto do PT ruiu.
Na classe trabalhadora, os setores ainda vinculados ao PT, fazem um enorme esforço para impedir o impeachment. Mas cada vez mais diminui o número daqueles que antes apoiavam o governo do PT e que perceberam que as medidas tomadas pelo governo Dilma penalizam ainda mais a classe trabalhadora, cortando ainda mais seus direitos. Até nos setores populares que recebem o Bolsa-Família, diminui expressivamente o apoio amplo que era anteriormente dado ao governo Dilma.
Não é difícil constatar que a crise é de alta densidade e profundidade: além de econômica,social e política, é também uma crise institucional, uma vez que abriga riscos de confrontação crescentes entre Legislativo, Executivo e Judiciário.
Assim, ninguém sabe qual será o dia-de-amanhã de Dilma: irá preservar seu mandato até 2018? Sofrerá um processo de impeachment com claro componente golpista? Suportará as explosivas pressões que vem recebendo praticamente das múltiplas frações da burguesia, onde a mídia dominante tem um papel decisivo ao impulsionar as revoltas conservadoras? Renunciará? Ou encontrará forças para soerguer-se e superar a crise atual? E mais: os setores mais crítico do governo, pela esquerda, mas que são contra o golpe, conseguirão ajudar a impedir o retrocesso institucional que o Brasil corre hoje?