Bianca Bosso, para o Ciência na Rua
foto da home: Operação Onda Verde – cc-by-2.0
“5 de agosto de 2025: em um anúncio televisivo endereçado para a nação, o presidente dos Estados Unidos, Gavin Newson, anunciou que deu ao Brasil o prazo de uma semana para que o país cesse as atividades de desmatamento na Floresta Amazônica. O presidente anunciou que se o Brasil não cumprir o aviso, irá ordenar um bloqueio dos portos brasileiros e ataques aéreos contra a infraestrutura nacional. Essa decisão foi tomada após a publicação de um relatório das Novas Nações Unidas que catalogou os efeitos catastróficos globais da destruição das florestas tropicais, alertando sobre um “ponto crítico” que, se alcançado, desencadearia um aumento na velocidade do aquecimento global. Apesar de a China ter anunciado que vetaria resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizando o uso da força contra o Brasil, o presidente americano disse que uma aliança de nações está preparada para dar apoio à ação. Ao mesmo tempo, Newson disse que os EUA e outros países estariam dispostos a negociar um pacote de compensação para mitigar os custos de proteger as florestas tropicais, mas somente se, primeiro, o Brasil cessasse seus esforços atuais para acelerar o desenvolvimento.”
O cenário hipotético descrito acima faz parte de um texto publicado nesta segunda-feira, 05 de agosto, por Stephen M. Walt, professor de Relações Internacionais na Universidade de Harvard, na revista americana Foreign Policy. O assunto ganhou atenção da mídia internacional após a notícia que o desmatamento na Floresta Amazônica aumentou mais de 88% entre junho de 2018 e 2019, revelando a necessidade de tomar medidas de proteção ambiental para evitar que impactos globais do desmatamento amazônico sejam agravados.
O autor enfatiza que, apesar de a política internacional considerar que cada Estado tem direito de reger seu território da forma que preferir, a Amazônia é um recurso global (já que se trata de uma reserva mundial de carbono, e é um fator regulador do clima global), o que traz em pauta o papel da comunidade internacional na intervenção das políticas de proteção ambiental brasileiras.
Na última semana – antes mesmo de o governo brasileiro confirmar um militar para o comando do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no lugar de Ricardo Galvão, alvo de acusações infundadas do presidente –, a capa da revista britânica The Economist trazia um mapa do Brasil esculpido em um toco de árvore, com o título “O relógio da morte para a Amazônia”. O jornal americano The New York Times publicou, no mês passado, o artigo “Sob o líder de extrema-direita do Brasil, as proteções amazônicas são cortadas e as florestas caem”. Isso ilustra a preocupação dos demais países com essa problemática, mas a questão é: o quão longe a comunidade internacional deveria ir para evitar ou reverter ações danosas para o meio ambiente?
Walt aponta que uma das medidas que poderiam ser tomadas para pressionar países ambientalmente irresponsáveis seria o uso da força militar por parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas há um paradoxo: os países com maior responsabilidade pelas mudanças climáticas (China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Japão) são também os menos suscetíveis à coerção, uma vez que possuem grande poder militar ou bélico, de forma que tal estratégia não é algo propenso a funcionar. É nesse sentido que o Brasil se torna um alvo interessante: o país tem posse de um recurso global cuja destruição prejudicaria todo o globo, mas não tem grande poder de combate, podendo ser facilmente pressionado.
O autor enfatiza que não tem o propósito de estimular tais ações, que podem parecer exageradas para o contexto atual, mas deixa claro que à medida em que os eventos climáticos se intensificarem, é provável que ações mais enérgicas (que não são necessariamente dependentes do uso de força) sejam tomadas por líderes políticos contra países cujas ações impliquem em danos ambientais, com o propósito de frear as mudanças climáticas. Como possível alvo, cabe aos representantes políticos do Brasil tomarem medidas de proteção ambiental, garantindo que o desmatamento na Floresta Amazônica seja diminuído ou cessado e evitando possíveis conflitos acerca dessa problemática.