Com informações do The Guardian e do Varsity
foto da home: ArildV – CC BY-SA 3.0
O Ministério da Defesa britânico está recrutando filósofos, psicólogos e teólogos para pesquisar novos métodos de guerra psicológica e manipulação comportamental. A primeira publicação que trouxe a público a informação foi o Varsity, jornal de estudantes da Universidade de Cambridge, em notícia de 14 de fevereiro. O Laboratório de Ciência e Tecnologia de Defesa desse ministério (DSTL, na sigla em inglês) busca investir quase 70 milhões de libras esterlinas, aproximadamente 350 milhões de reais, para desenvolver com alguma instituição parceira o programa Capacidade de Pesquisa em Ciências Sociais e Humanidades (HSSRC, na sigla em inglês), que tem por objetivo investigar como as artes, humanidades e ciências sociais podem moldar estratégias militares e de segurança, incluindo “operações psicológicas”.
Ainda em 2014, o jornal inglês The Guardian revelou o programa secreto do ministério para guerra cibernética, que abordava como técnicas psicológicas e tecnologias emergentes como as redes sociais poderiam ser aproveitadas por militares para influenciar as crenças das pessoas.
O Varsity obteve um documento que mostra que a Universidade de Cambridge estava entre as finalistas da seleção, da qual decidiu participar em reunião da direção geral, em junho de 2018. A proposta da universidade previa uma parceria com a empresa de consultoria em segurança nacional Frazaer-Nash para a criação de um centro de pesquisa dentro do Centro de Pesquisa em Artes, Ciências Socias e Humanidades (CRASSH, na sigla em inglês). Sem explicar os motivos, a universidade desistiu da ideia. A Universidade Lancaster, em Bailrigg, também estava entre as competidoras e também desistiu.
O documento mencionava que os riscos para a reputação de Cambridge poderiam ser mitigados por uma campanha de comunicação. Simon Schaffer, professor de história e filosofia da ciência na prestigiosa universidade, declarou ao jornal The Guardian “Não quero ser acadêmico demais sobre isso, mas chama muito a atenção que um programa – elaborado para mudar as visões e opiniões das pessoas com propósitos militares – gastaria parte do dinheiro mudando as opiniões e visões das pessoas para que elas não se opusessem à mudança de opiniões e visões das pessoas. Vê o que fizeram aqui? Propaganda ao quadrado, e isso parece errado.” O DSTL afirmou que não havia orçamento de relações públicas para o projeto.
Em carta aberta, mais de quarenta professores e pesquisadores de Cambridge demonstraram preocupação em relação à iniciativa. “Não acreditamos ser papel da universidade pública envolver seus quadros em conflitos armados ao agir como contratista de pesquisa para o Ministério da Defesa”, diz um trecho do documento. Os signatários alegam ainda que o programa “apresenta sérios riscos para a reputação e credibilidade de nossa pesquisa”.