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Ciência e cultura juntas na UFBA na abertura do Fórum Social Mundial 2018
Fórum Social Mundial

por | 23 mar 2018

Lentamente, o casal de cientistas Zilton Andrade, 93 anos, e Sônia Andrade, 89, atravessou no começo da tarde da terça-feira, 13 de março, o corredor central do salão nobre da reitoria da UFBA, em meio ao silêncio reverente de mais de 400 pessoas que lotavam o espaço. Quando finalmente, cerca de 10 minutos depois, o reitor João Carlos Salles os chamou para a mesa da solenidade de abertura da participação da Universidade no Fórum Social Mundial 2018, na qual eram homenageados, a plateia em peso levantou-se e longamente os aplaudiu de pé.

Reitor João Carlos Salles, os cientistas Sonia Andrade Zilton Andrade e Eliane Azevedo e o compositor e professor Paulo Lima

Várias outras vezes, naquela tarde, Sônia e Zilton, ambos professores eméritos da UFBA e pesquisadores ainda em atividade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Bahia), seriam tratados com palmas de entusiasmo e emoção. Mas sobraria no público energia para aplaudir também com o mesmo vigor o outro homenageado, em memória, o mestre Didi, por batismo Deoscóredes Maximiliano dos Santos, artista plástico, sacerdote e expoente da cultura afro na Bahia, cujo centenário ocorrera em dezembro passado. Suas filhas, Maria Nídia dos Santos e Inaycira Falcão, o representaram, e a segunda reservava secretamente momentos de puro encanto para o público.

Composta a mesa pelo reitor, mais o vice-reitor Paulo Miguez, os cientistas homenageados, as filhas do Mestre Didi e a ex-reitora da UFBA, Eliane Azevedo, também ela cientista, a cerimônia foi iniciada com uma saudação aos “ojés”, ancestrais na religião de matriz africana, feita por membros do Terreiro Ilê Axé Axipá, uma das principais fontes de inspiração de Deoscóredes Maximiliano dos Santos, o Mestre Didi. A Orquestra de Frevos e Dobrados, regida pelo maestro Fred Dantas, entrou em ação logo a seguir, começando pela execução do Hino Nacional.

O reitor João Carlos Salles daria em sua fala nessa solenidade o tom que marcaria nos dias seguintes a participação da UFBA no Fórum Social Mundial 2018. “As instituições públicas, como as universidades, não deixam de servir ao longo do tempo às elites, mas elas têm por vocação, destino, servir à liberdade, servir à democracia. São o lugar da ampliação de direitos, do combate às desigualdades e por isso mesmo não podem deixar num momento como esse de se posicionar”.

Foi explícito sobre o porquê de a UFBA ter oferecido desde outubro do ano passado suas instalações para abrigar o evento na Bahia. “A Universidade Federal da Bahia tem a honra, nesse momento de ser parceira do Fórum Social Mundial. Nós estamos acolhendo um grande evento, um lugar de reflexão, de crítica, de resistência, porque nesse momento resistir é defender o melhor da nossa natureza. Sonhar, sim, que outro mundo é possível, um mundo diferente, sem desigualdades, um mundo livre, mas nenhum mundo possível vale a pena sem uma universidade pública de qualidade”.

Saudações e homenagens

Nancy, diretora da Escola de Belas Artes, e Cajahiba, diretor da Escola de Teatro, entregam flores a Maria Nídia dos Santos e Inaycira Falcão, filhas de mestre Didi

As saudações a Zilton e Sonia Andrade foram feitas pelo diretor da Faculdade de Medicina da UFBA, Luís Fernando Adan (íntegra abaixo) e pelo professor Mitermayer Reis. O professor Zilton fez questão de ler seu agradecimento e da professora Sonia (íntegra também abaixo) pelas homenagens recebidas da UFBA.

A saudação a Mestre Didi coube ao professor Marcos Aurélio Luz, da Faculdade de Educação. “Foi um dos grandes líderes religiosos da Bahia, reposicionou a tradição da ancestralidade da religião africana no Brasil”, definiu, encerrando sua fala com um canto em homenagem a Ogum. O momento das homenagens a Mestre Didi foi tempo de ouvir também inesperados cantos da cultura afro interpretados em clima de encanto pela filha Inaycira, cantora lírica dona de poderosa e bela voz.

Encerrada a cerimônia na reitoria, participantes foram em marcha até o Campo Grande para se juntar à concentração da marcha de abertura do Fórum Social Mundial 2018, que seguiu pelo centro de Salvador com milhares de pessoas até a Praça Castro Alves.

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