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Carregando a limpeza das cidades nas costas

por | 11 set 2025

Luiza Moura comenta o filme ‘A melhor mãe do mundo’

ilustração: Kairo Rudáh, a partir de cartaz do filme

Há mais ou menos um mês, fui ao cinema com minha família assistir o filme novo da diretora paulistana Anna Muylaert, ‘A melhor mãe do mundo’. O longa é ambientado em São Paulo e conta a história da Gal, uma catadora de materiais recicláveis que embarca em uma aventura com os filhos para fugir de uma situação de violência doméstica.

O filme tem uma série de camadas e explora questões sociais como o machismo, a misoginia, o racismo, a maternidade, a necessidade de coletivizar lutas e dores. Mas, nesse texto, quero focar em algo que para mim é central no filme e fundamental na luta por um mundo mais ecológico: a importância dos catadores e das catadoras de material reciclável.

Gal, desde o começo, exemplifica as lutas e dificuldades que essa categoria enfrenta no seu dia a dia: o peso de puxar uma carroça pelas ruas da cidade em busca de material reciclável, o pouco reconhecimento, a baixa remuneração, os perigos das ruas. Em cenas tocantes vemos a protagonista e os filhos em busca de latinhas, papelão e garrafas de plástico, para colocar na carroça e levar para serem pesados e precificados.

O fato é que os catadores e as catadoras de material reciclável cumprem um papel enorme na manutenção da limpeza urbana e, mais do que isso, prestam de fato um serviço ambiental para a sociedade e deveriam ser remunerados e reconhecidos por isso. Ao incentivar e fazer parte da lógica da economia circular e da logística reversa, ajudam a diminuir os impactos do consumo, a criar uma lógica de reutilização de materiais e a diminuir os efeitos que o descarte incorreto de resíduos sólidos pode causar.

Entre 2023 e 2024, enquanto eu estagiava no mandato da deputada estadual Marina Helou, vi a parlamentar apresentar uma série de projetos de lei que apoiava os catadores e buscava incluir o trabalho deles em uma lógica de remuneração por serviço ambiental urbano. Cito aqui especificamente o PL 416/2024, que “Institui a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos – PEPSAU, no Estado”. O Projeto ainda não foi votado na Alesp mas, se aprovado, poderia trazer melhorias significativas para essa categoria em geral tão invisibilizada.

Acho que o filme de Anna Muylaert é uma oportunidade incrível para popularizar e trazer para o centro do debate o papel dos catadores nas cidades, núcleos urbanos e comunidades ao redor do país. Gal é símbolo de muitas mulheres que têm a catação como meio de vida e, a partir disso, sustentam suas famílias.

É urgente que parlamentares, prefeitos, governadores, ministros, o movimento ambientalista e movimentos sociais reconheçam a importância da categoria. Seu trabalho garante qualidade de vida para parte da população, levanta questões sobre a lógica consumista do capitalismo e traz sérios benefícios para o meio ambiente, muitas vezes ainda visto como algo distante, mas que está também nas cidades, como a São Paulo do filme.

Gal e tantas outras mulheres da vida real merecem e precisam desse reconhecimento. E é nosso papel reverenciar, agradecer e valorizar os catadores e as catadoras de material reciclável.

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