Ilustração: Kairo Rudáh
Luiza Moura comenta os custos proibitivos para o evento em Belém

Foto: Jader Paes / Agência Belém
Nas últimas semanas, a COP30 voltou ao centro dos debates e se tornou um dos temas mais comentados nos noticiários do país. Infelizmente, a Conferência das Partes não virou notícia porque fechamos um acordo de sucesso, porque conseguimos garantir que os países ricos paguem o que devem ou porque agora temos um excelente fundo internacional para fazer políticas de adaptação e de mitigação. Na verdade, a COP30, que acontecerá em novembro, virou notícia por conta dos preços abusivos que estão sendo cobrados para se hospedar em Belém durante os dias da conferência.
A questão do preço dos hotéis e dos aluguéis em Belém se tornou um problema tão grande que houve até uma reunião da ONU para discutir o tema. O fato é que, com os atuais valores, a participação de diversas pessoas e até de delegações de países mais vulneráveis ficou em risco. Membros de pequenos países insulares e de países em desenvolvimento afirmaram que podem não trazer suas delegações devido aos custos altíssimos.
Essa questão me fez pensar: quem pode frequentar a COP? Quem tem, de fato, condições de pagar tanto para participar dessa conferência? Será que por tratar de um tema tão urgente, tão necessário e tão fundamental, a COP não deveria ser mais acessível? E será que o foco desse encontro não deveria ser, justamente, as delegações dos países mais afetados pelas mudanças climáticas — como os insulares — e a sociedade civil, que tem contribuído fortemente para o debate?
Claro que os preços altos não são uma exclusividade de Belém. Nas COPs anteriores, como em Dubai ou em Sharm El-Sheikh, também não foi nada barato participar dos eventos. Porém, fico pensando se um país como o Brasil — que é tão protagonista em discursos sobre a reformas das Nações Unidas, a importância dos países do Sul Global e na defesa de países historicamente excluídos — não deveria conduzir a realização da COP de outra maneira, garantindo presença e participação justamente desses países.
Garantir a presença, o direito de voz e a participação ativa de locais mais vulneráveis e mais suscetíveis aos impactos da crise climática seria colocar em prática o discurso da justiça climática, das responsabilidades comuns mas diferenciadas. O Sul Global, que por muito tempo foi silenciado, excluído dos fóruns de debates e ignorado pelas grandes potências do mundo, precisa estar em peso na COP30. É a única forma de termos uma conferência que alcance resultados justos, factíveis e que possam mudar os rumos do debate acerca das questões climáticas da atualidade.
Luiza Moura é bacharela relações internacionais na PUC-SP e ativista socioambiental