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Uma treta histórica na Royal Society

por | 4 set 2024

Tatá conta o causo da disputa entre dois cientistas no século XVII (você com certeza conhece pelo menos um deles)

ilustração: @paozinho_celestial

Com a internet e as redes sociais, ficou cada vez mais fácil saber das fofocas que acontecem pelo mundo afora com os famosos. Temos perfis como o Choquei ou o jornalista Léo Dias, que adora anunciar acontecimentos desse tipo antes de todos.

Mas será que já paramos para pensar como eram as fofocas e intrigas do mundo acadêmico antes da internet? Quando não se podia abrir uma live no Instagram para discordar de tal ou tal pesquisador? Não importa a época ou o nível de conhecimento, pessoas irritadas podem cometer atrocidades.

Alguém consegue imaginar um homem adulto, capaz de postular leis físicas que regem a mecânica clássica, que conseguiu postular a Lei da Gravitação Universal sobre a atração e repulsão dos corpos no Universo, fazendo birra? Estou falando de Sir Isaac Newton, e é óbvio que ele tinha lá motivos, né? Houve uma rixa entre Newton e Robert Hooke, conhecido por sua lei que descreve a força aplicada sobre um corpo elástico.

O motivo da briga vem daí: prioridade e reconhecimento sobre descobertas científicas. Até aí, eu concordo em grau, gênero e número: quem descobriu que leve o crédito. Hooke já era um membro antigo e influente da Royal Society (uma das mais prestigiadas sociedades científicas do mundo, na Inglaterra), e Newton havia acabado de ser eleito membro dessa sociedade.

Será que já deu para adivinhar um pouco dos motivos da briga? Hooke era das antigas e já tinha as suas próprias ideias quando Newton apareceu com ideias novas que divergiam do tão respeitado membro da sociedade.

A primeira discordância entre eles foi sobre a luz. Hoje sabemos que a luz tem uma dualidade partícula-onda, mas como eles iriam saber disso em 1670? Foi por causa deles, da genialidade de cada um, que soubemos a real natureza da luz. Mas, voltando, para não perder o foco; Hooke acreditava que a luz era uma onda eletromagnética e Newton propôs algo diferente. A ideia dele era que a luz branca era uma combinação de diversas cores e que poderiam ser separadas e analisadas por meio de um prisma.

Pronto, aí foi motivo de “botarem fogo no circo” e começarem com as discussões através de cartas. Me pego rindo pensando em que tipo de xingamentos eles usavam entre si. O bom de serem cartas é que dava tempo de pensar na resposta e não aparecia a mensagem de “visualizado” e nem tinha o “online”. Gostei do conceito de briga por cartas.
O segundo motivo de briga foi a Lei da Gravitação Universal (não vamos entrar em detalhes, nem em seu sentido físico), que gerou uma disputa por reconhecimento de descobertas.

Carta vai, carta vem, discutindo sobre esses pensamentos, como postulava ou como que funcionava — porque primeiro a gente formula ideias e depois faz os cálculos para aferir —, Hooke deu uma ideia que Newton gostou e usou. Viu que fazia sentido, foi fazer conta e, pasmem, deu certo.
O que esperaríamos é que fosse uma lei que levasse o nome Newton-Hooke ou algo assim, mas não foi. Newton deve ter batido no peito e falado “Quem fez as contas fui eu, então o reconhecimento é meu”. Já consigo até imaginar cadeiras voando e seguranças indo apartar a briga.

Acredito eu que eles deviam lançar olhares tortos um para o outro, e isso só acabou quando Hooke (finalmente?) morreu. Newton conseguiu a glória que queria, se tornou presidente da Royal Society e, com toda a raiva que sentiu do cara — especulam os fofoqueiros da física — destruiu os retratos dele. E é por isso que hoje não temos nenhum vestígio de como era a aparência de Robert Hooke.

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