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Reflexões de uma (quase) formada em relações internacionais

por | 26 jun 2024

Para a colunista, é urgente que as RI encarem a discussão ambiental como prioridade

imagem: Freepik

Há algumas semanas, defendi minha pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso em uma banca na PUC/SP. Passei o último ano inteiro pesquisando as zonas de sacrifício ambiental chilenas, e me debrucei mais especificamente sobre a região de Quintero-Puchuncaví, que fica perto da cidade de Valparaíso. De forma bastante simplificada, as zonas de sacrifício são locais ambientalmente degradados com um monte de empresas nacionais e multinacionais que expelem poluentes e prejudicam a saúde das pessoas, dos animais e das plantas, desequilibrando todo um ecossistema existente ali. Na minha visão, as zonas de sacrifício — que não são exclusividade chilena — são o exemplo mais claro de que o modelo de desenvolvimento adotado até aqui é falho e deve ser mudado com urgência.

Mas não quero passar o texto falando sobre o meu TCC. Acho que me interessa muito mais falar um pouco sobre como a área de relações internacionais (RI) pode contribuir — e muito — com as discussões sobre questões ambientais e climáticas. Vemos, hoje em dia, grandes mobilizações e preocupações com as conferências internacionais que discutem questões climáticas. As COPs, os encontros internacionais, o Acordo de Paris, são pautas que estão bastante arraigadas dentro da lógica das relações internacionais, e certamente só avançamos em alguns pontos da discussão porque os estados e as organizações internacionais entenderam que era fundamental falar sobre meio ambiente e sobre clima.

Entendo, porém, que meu campo ainda pode contribuir com mais. A forma de desenvolvimento que vemos hoje ainda está muito ligada ao processo colonial. Ainda vemos uma lógica em que países do sul global produzem matéria prima e países do norte global são os responsáveis por mostrar o caminho a ser seguido e vender produtos mais caros e elaborados. Ora, foi justamente esse modelo que nos trouxe para a crise climática global que vivemos. Então, é fundamental que as relações entre os países sejam olhadas também com a ótica e a perspectiva do meio ambiente.

Ao realizar essa pesquisa, no último ano, pude perceber que ainda existe uma lacuna de pesquisas na área. O campo ainda não olha para as questões climáticas e ambientais como algo estruturante e estrutural e como algo que molda todas as relações que se estabelecem hoje. É preciso, com urgência, que as RI mergulhem profundamente nessa discussão. Enquanto ficarmos discutindo esse tema somente uma vez por ano, no período das Conferências das Partes, não conseguiremos avançar na discussão e contribuir de fato para essa causa.

Entendo que ainda sou muito jovem em todo esse campo, que existem pesquisadores e professores que se dedicam ao estudo dessa área há anos e décadas. Mas, como alguém que se descobriu ativista durante a graduação — e muito por causa da graduação — sinto falta de ver as questões ambientais e climáticas como pontos centrais de debate e discussão entre intenacionalistas. Talvez caiba a nós, de novas gerações, encampar esses tópicos e começar a trazer essa mudança para dentro de um campo de estudos tão fascinante.

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