Por Thaciana de Souza Santos
Uma visita à antiga escola desperta reflexões e colunista relembra sonhos, angústias e a maturidade exigida para decidir sobre o futuro quando tudo ainda é um grande ponto de interrogação.
As minhas férias acabaram e parece que foram rápidas demais. Eu não saí, fiquei em casa assistindo novela, séries e filmes, aproveitei para tentar colocar a academia na minha rotina. Isso mesmo, agora estou indo para a academia, não sei como será quando tiver que conciliar tudo, mas não mata sonhar. A minha psicóloga pegou bastante no meu pé para que eu fizesse uma atividade física, mas nunca me pareceu uma prioridade, faltava tempo. Mas agora vou me esforçar porque quero ficar com o corpinho da Gracyanne Barbosa.
Agora, sobre a faculdade: estou indo para o 4º semestre, e olha, passa rápido, né? É o último semestre do ciclo básico, não terei mais as matérias de física e cálculo, a partir do ano que vem será mais específico. Mas parece que foi ontem que comecei a faculdade.
O que mais me encanta foi o amadurecimento que tive, e a importância que tenho na vida dos outros. O meu irmão, Paulo, ainda está aprendendo a ler, então muita coisa para ele é novidade. Para ele não faz sentido aqui ser dia e no Japão ser noite, ou como as estrelas estão tão distantes se conseguimos vê-las no céu, ou como não caímos se estamos girando.
Eu já fiz essas perguntas um dia, acho que todos nós. Agora eu posso dar respostas completas ao Paulo – claro que é necessário simplificar, mas tento explicar da melhor forma. Em momentos assim penso se não deveria ter seguido na licenciatura, porque é incrível ensinar. Agora eu entendo porque algumas pessoas seguem por esse caminho. Mas eu não saberia lidar com alguns sentimentos envolvidos, tenho um pavio muito curto, apesar de ter cogitado, sim, fazer a licenciatura. Passei no Instituto Federal, até me matriculei e quase iniciei o curso, mas não parecia certo, não era exatamente o que eu queria e eu iria tirar a vaga de quem realmente queria. Essa foi uma decisão difícil, mesmo não sendo o meu sonho. Eu estava abrindo mão da faculdade para fazer um ano de cursinho. Teria tempo de repensar o que eu queria para a vida, talvez eu tivesse desistido, ou não.
Na última semana, fui visitar os professores na escola onde fiz o ensino médio, fui com uma amiga que está cursando farmácia na Unifesp e, bom, sei que eles têm muito orgulho de nós, e não pude deixar de reparar que quando chegava algum aluno enquanto estávamos conversando, falavam que deveriam seguir o nosso exemplo. Eram pessoas que eu não conhecia, mas sentia um aperto no coração por todos eles. Eu não sabia o que falar para amenizar o que estavam sentindo. Em alguns meses vários serão empurrados para a vida adulta sem nem saber como sobreviver.
Eu sempre achei desnecessária a cobrança colocada sobre adolescentes de 16/17/18 anos para saber o que queriam para o futuro, e nunca fez sentido a pergunta: o que você quer ser na vida? Isso como se eu já não fosse alguém, não tem nexo isso. Como eu, com 17 anos, iria saber com o que quero trabalhar para o resto da vida? Não sabia nem quem eu era ou do que gostava de fazer, meu gênero preferido para livros, filmes e séries. Coisas simples eu não sabia, como saberia do meu futuro? Eu sei que eles têm as melhores das intenções e acho que, se eu fosse professora, também iria querer que os meus alunos tivessem futuros brilhantes, que mudassem o mundo para melhor.
Enquanto isso, eu vou fazendo o que posso para tentar mudar ou prepará-los para o mundo universitário que, diga-se de passagem, não é tão acolhedor como a escola.
O mundo ainda não é o meu alvo de mudança, estou tentando mudar o jeito de enxergar a vida para aqueles que estão perto, principalmente o Paulo. Quero que muito conhecimento seja facilitado para ele, porque talvez seja ele que faça a diferença.
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua