Em 2019, o consórcio do telescópio Event Horizon havia obtido a imagem de outro buraco negro, na galáxia Messier 87
O consórcio de cientistas Event Horizon Telescope Collaboration, responsável pela operação do telescópio Event Horizon (EHT, na sigla em inglês), revelou no último dia 12 ter obtido uma imagem do buraco negro Sagitário A*, que fica no centro de nossa galáxia, a Via Láctea. Já havia sido observado que estrelas orbitavam em torno de um objeto invisível, compacto e com grande massa, o que sugeria tratar-se de um buraco negro, sugestão reforçada agora pela evidência visual.
O que podemos ver na imagem não é o próprio buraco negro, já que ele é totalmente escuro, e sim o anel de gás brilhante que o circunda e a luz sendo curvada pela fortíssima gravidade do objeto, que tem cerca de 4 milhões de vezes a massa do nosso Sol.
“Ficamos estarrecidos com o quanto o tamanho do anel estava de acordo com as previsões da Teoria Geral da Relatividade de Einstein”, disse Geoffrey Bower, cientista do projeto e pesquisador do Instituto de Astronomia e Astrofísica da Academia Sinica, em Taiwan. “Essas observações inéditas melhoraram muito nosso entendimento do que ocorre no centro de nossa galáxia e oferecem novas compreensões de como esses buracos negros gigantes interagem com seus entornos.”
A imagem é bastante semelhante àquela revelada em 2019, do buraco negro M87* no centro da longínqua galáxia Messier 87, mas o desafio para capturá-la foi maior. Embora Sagitário A* esteja mais perto, é muito menor. “O gás na vizinhança dos buracos negros se move na mesma velocidade – próxima à da luz. Mas, enquanto o gás leva semanas para orbitar o M87*, no Sagitário A* ele completa a órbita em minutos. Isso quer dizer que o brilho e o padrão do gás em volta de Sagitário A* estavam mudando rapidamente enquando o EHT Collaboration o observava – mais ou menos como tentar tirar uma foto bem definida de um filhote de cachorro perseguindo velozmente o próprio rabo,” explicou Chi-kwan Chan, da Universidade do Arizona, EUA, e do Observatório Steward, no mesmo estado.
Para dar conta do desafio, os pesquisadores precisaram desenvolver ferramentas novas e sofisticadas que levassem em conta o movimento do gás. A imagem que vemos é uma média das diferentes imagens extraídas ao longo da observação. O trabalho todo durou cinco anos, com mais de 300 pesquisadores de 80 instituições envolvidos. Cientistas estão animados com a possibilidade de comparar as imagens de buracos negros de tamanho tão diferente. “Agora podemos estudar as diferenças entre esses buracos negros supermassivos para obter novas pistas valiosas sobre como funciona esse processo importante,” disse Keiichi Asada, da Academia Sinica.