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Debate se espalha na universidade pública como resistência ao autoritarismo

“USP contra o golpe” foi o chamado geral do ato em favor da legalidade democrática que tomou na noite da terça, 29 de março, o grande vão do prédio da História e Geografia da Universidade de São Paulo (USP). Distintas análises sobre o momento se sucederam, talvez nenhuma tão sombria quanto a de Paulo Arantes, um respeitado filósofo, professor titular aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da universidade (FFLCH-USP). “Nós não sabemos o que vai acontecer e, pior, nem eles sabem! Há 52 anos achávamos que estava acontecendo apenas uma intervenção militar passageira – a ditadura durou 21 anos”, resumiu ele, deixando clara sua preocupação com os rumos da crise política que chacoalha o país.

Marilena Chauí, também filósofa e professora da mesma instituição, fez uma convocação a que todos que estão mobilizados contra o golpe não se limitem às manifestações nas ruas. “Devemos ter ações concretas dirigidas aos poderes existentes: Congresso, Supremo Tribunal Federal e Executivo”, conclamou.

Nesse sentido, a primeira grande frente de luta é convencer os congressistas de que “a operação abafa não vai acontecer. Os 200 nomes da lista da Odebrecht não vão desaparecer se eles votarem pelo impeachment. Eles precisam compreender isso”. A segunda ação precisa ser de fortalecimento do STF, “para que não se sinta acuado pelos atropeladores da Constituição” e possa atuar como a corte suprema que é.

“Quanto ao Executivo, precisa entender que só terá capacidade para impedir o golpe se nos tiver como seus aliados. Se não for para a esquerda, estará completamente desamparado”, disse.

Vivemos hoje, observou, “uma desinstitucionalização da república, com os três poderes acuados por juízes que violam a lei e pisoteiam a Constituição”, acrescentou. Vivemos também o desmantelamento da democracia, com a luta de classes eclodindo violentamente nas ruas, “com uma massa enfurecida e desorganizada a ocupá-las, sobre a qual o PMDB não tem controle. É uma multidão à procura de um líder autoritário, movida pela paixão da vingança, do ódio e do ressentimento”. Busca um líder que lhes dê ordem e segurança, explicou, chame-se ele Bolsonaro ou Moro.

Outros representantes conhecidos do pensamento democrático e de esquerda na USP se manifestaram durante o ato, entre eles André Singer e Gilberto Maringoni.

Uma semana de reflexão na UFBA

Crise e democracia é o título do ciclo de palestras sobre a atual conjuntura política e o futuro da democracia que ocorrerá de 4 a 8 de abril, sempre às 18 horas, na Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O evento, que reflete bem a preocupação já manifestada pelo reitor João Carlos Salles quanto à manutenção da universidade como espaço ativo de resistência a todo autoritarismo, tem o apoio do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub), do Sindicato Dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Públicas Federais no Estado da Bahia (Assufba) e do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

“O ciclo tem sido muito saudado por todos, dada a grande diversidade de visões que vai possibilitar, naturalmente no interior do campo da democracia”, disse o reitor. O evento se estrutura, explica, num registro de diálogo, não de confronto, “estaria mais para um tango que para um duelo”, compara, brincando com palavras e conceitos. Tudo será transmitido online com apoio da Tv UFBA e Irdeb.

A lista prevista de debatedores é a seguinte:

04 de abril – Ricardo Antunes, Jandira Feghali, Fernando Carneiro e Mariluce Moura.
05 de abril – Selma Rocha, Zé Maria Almeida, João Paulo Rodrigues e José Arbex Jr.
06 de abril – Renato Rabelo, Vladimir Safatle, Valter Pomar e Jorge Almeida.
07 de abril – Nildo Ouriques, Julio Turra, Iole Ilíada Lopes e Luiz Filgueiras.
08 de abril – Ermínia Maricato, Marco Aurélio Nogueira, Bob Fernandes e Emiliano José.

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