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“Uma rima pode salvar vidas”
Covid-19

por | 17 jun 2020

Batalha do Covid premia vídeos com rimas sobre a pandemia

Desde o início de junho, a Batalha do Covid, um evento virtual organizado por coletivos autônomos com alguns apoios institucionais busca promover a conscientização sobre a epidemia de covid-19 através das rimas e incentiva a participação por meio da distribuição de prêmios em dinheiro e artigos de primeira necessidade.

A partir de sua página no Facebook, os organizadores convocam poetas, MCs, rimadores, rapentistas e emboladores que façam parte de alguma batalha, rinha, crew, sarau, slam ou coletividade poética afim para enviarem seus vídeos com rimas sobre quatro temas: prevenção e conscientização sobre a covid-19, luta pela sobrevivência e pela vida nas periferias, a importância, defesa e fortalecimento do SUS – Sistema Único de Saúde e reconhecimento, gratidão e homenagens a todos e todas e todes profissionais de saúde que estão na linha de frente, “salvando as nossas vidas e dos nossos (muitas vezes às custas de suas próprias vidas)”.

O melhor vídeo/rima de cada dia, aquele que tiver maior envolvimento, engajamento positivo, compartilhamentos e visualizações, ganha R$ 50 no dia seguinte. Aos Domingos, o melhor vídeo/rima da semana, sob os mesmos critérios, ganha R$ 200, cesta de alimentos e kit de higiene. O melhor do mês ganhará R$ 1.750, cesta básica completa e kit de higiene/saúde.

A iniciativa é de coletivos de hip hop de São Paulo, a partir da ideia de MC Who, figura de perfil reservado, em suas próprias palavras, mas com contribuições de enorme peso em quase quatro décadas na cena do hip hop paulistano, inclusive a produção do disco Hip Hop Cultura de Rua, registro pioneiro do rap no Brasil. Seu grupo, O Credo, foi responsável por fazer circular na cena um exemplar traduzido da Autobiografia de Malcom X, “circulou na mão de todo mundo, foi o primeiro que todo mundo leu”.

MC Who, em entrevista por videochamada ao Ciiencia na rua

“O hip hop é coletivo, sozinho ninguém faz nada”, diz Who. Entre os articuladores da Batalha, ele menciona o artista Tiely Queen, o historiador Danilo Cesar, o MC Fera Vai Segurando, o MC TZO, “e toda uma equipe do SUS que está abraçando”, inclusive Loko Solitário, poeta e agente do SUS , além de vários grupos como Batalha do Paraisópolis, Aliança Negra, TV das Ruas e o Cultura de Rua, coletivo de Who.

O projeto surgiu da articulação do Cultura de Rua com a Casa do Hip Hop Centro, o coletivo 011, Slam do Real, Slam Resistência (que estava colaborando até a morte de seu fundador Del Chaves) e Rede de Apoio às Famílias de Vítimas Fatais de Covid-19. Em seguida, entrou o Centro Cultural da Juventude (CCJ), na figura de Ingrid Soares, que promoveu uma live com audiência de quase 2 mil pessoas no dia 31 de maio. “A gente se mobilizou o mais rápido possível, sem nenhum tipo de recurso, porque uma rima pode salvar vida, a arte salva vida”. Neste domingo, 21, às 16h, acontecerá outra live, que poderá ser acompanhada pelo Instagram (@batalhadocovid) e pelo Facebook.

O objetivo principal é conscientizar a juventude falando uma “linguagem da rua”. “Os raps, as rimas, têm grandes toques, lavar a mão, permanecer em isolamento”, além da preocupação com a transmissão para pessoas mais velhas, na linha de “Se você acha que não vai pegar, não esquece da tiazinha da igreja, da sua mãe e do seu avô”. “Aí você pega o ‘de menor’ na curva da rebeldia, porque, por mais rebelde que ele seja, ele não perde vínculo de afeto com pelo menos alguém da família, alguém que ele conviva”, explica o MC, que hoje se divide entre a militância cultural e a preservação da memória do hip hop brasileiro, tendo lançado, em 2015, o livro Hip Hop Cultura de Rua – Eixo 1.

MC Who menciona ainda a dificuldade de as pessoas se manterem em casa, “Na quebrada é embaçado, na questão física, os cômodos pequenos, e até pelo sustento mesmo, como é que o cara vai ficar parado lá? E esse é o grande aspecto da Batalha do Covid, porque, mano, é 50 conto a melhor rima do dia. 50 conto na quebrada, ele faz um corre de alimento por uns dias. O prêmio da semana são 200, já vai melhorando. Estamos atrás de mais recursos. Já tem uma cestinha de alimento que conseguimos, está chegando kit de skate de outra loja…”.

A Batalha do Covid não tem prazo para acabar, assim como a pandemia. Futuramente, os organizadores pretendem promover batalhas de rima ao vivo, seja online, o que depende de boa infraestrutura de rede, seja no CCJ, com os rimadores distantes um do outro e demais protocolos de segurança sendo respeitados.

Para participar, basta gravar um vídeo com suas rimas e enviar para batalhacovid@gmail.com, para o Youtube ou para a página da Batalha no Facebook, incluindo a hashtag #BatalhaDoCovid. Lembre-se: uma rima pode salvar vidas!

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