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CBPF calcula evolução da pandemia

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

Dois pesquisadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) fizeram trabalhos mostrando como se dará a evolução da covid-19. Um dos resultados mostra como a doença deve evoluir em vários países, e o outro faz uma comparação do cenário brasileiro com o argentino.

O primeiro dos trabalhos foi feito por Constantino Tsallis, pesquisador emérito do CBPF, em coautoria com seu colaborador Ugur Tirnakli, do Departamento de Física, Universidade Ege (Turquia). Os cálculos estão baseados na chamada q-estatística (ou estatística de Tsallis), proposta pelo físico teórico há cerca de 30 anos – artigo que, hoje, tem mais de 5,3 mil citações, segundo o Web of Science.

O gráfico obtido por Tsallis e Tirnakli – com base na fórmula matemática que aparece acima dele – mostra a evolução da covid-19 em 11 países, incluindo o Brasil. As curvas indicam que em todos os países os casos confirmados de contaminação estão crescendo – exceções marcantes são a China e a Coreia do Sul, cujas curvas já estão em declínio acentuado. Os dados para os cálculos vieram do portal Worldometers (https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries).

Gráfico (número de casos ativos versus dias) em 11 países, incluindo Brasil (Crédito: Tsallis e Tirnakli)

Em um cálculo extra, com base no mesmo modelo, os dois físicos compararam Brasil, EUA e Itália. Para o primeiro, os casos ativos (notificados) poderá atingir um pico de quase 54 mil, em 15 de maio próximo – isso pode levar a cerca de 2,7 mil mortes em um só dia. Para os EUA, o pico do número de casos ativos deve ser de impressionantes 1,7 milhão, em 25 de maio próximo.

A Itália, segundo o gráfico, já está bem perto de seu pico máximo (113 mil em 20 de abril próximo), o que descreve muito bem a situação real, segundo Tsallis.

Para o pesquisador emérito do CBPF, “a metodologia utilizada foi comprovada bastante satisfatoriamente nas distribuições de volumes de ações transacionadas na Bolsa de Valores Nova York e na Nasdaq”.

Gráfico (número de casos ativos versus dias) comparando Brasil, EUA e Itália (Crédito: Tsallis e Tirnakli)

Vale ressaltar que essas estimativas – e as que vêm a seguir, comparando Brasil e Argentina – valem para um cenário em que não há nem vacina, nem medicamento eficaz para combater a covid-19.

Brasil e Argentina

O físico Martín Makler, pesquisador titular do CBPF, e a física experimental Carla Bonifazi, pesquisadora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizaram estudo comparativo entre Brasil e Argentina com base em dados oficiais.

Makler alerta para o fato de que o modelo empregado é bem simplificado, não levando em conta fatores que modelos epidemiológicos mais robustos incluem normalmente para essas previsões. O objetivo foi avaliar o impacto das medidas de isolamento (ou ausência delas) no número de morte pela covid-19 nos dois países.

Comparação do número de casos (curvas acima) e estimativa de mortes (curvas abaixo) (Crédito: Bonifazi & Makler)

“É uma análise tão simples que pode ser feita por qualquer pessoa com formação técnica. Daí vem sua força, pois os resultados não dependem nem de um modelo específico, nem de hipóteses sobre a disseminação da doença. É quase que apenas uma leitura dos números [oficiais].” diz Makler.

O gráfico comparativo – escala logarítmica no eixo vertical e linear no horizontal – mostra que, por causa de medidas mais rígidas de isolamento, tomadas há mais tempo que no Brasil, a Argentina apresenta contenção muito mais expressiva no número de mortes. Segundo Makler e Bonifazi, “a previsão para o Brasil é bastante preocupante, indicando que é necessário tomar mais ações para aumentar o isolamento”.

A conclusão dos autores é que, “[n]os dois países, observa-se uma diminuição da taxa de crescimento dos casos – mas não diminuição dels –, em comparação com as primeiras semanas da doença. Isso é positivo, mas não suficiente. Como no Brasil houve uma mudança de metodologia que diminuiu em muito os casos confirmados – só os mais graves são testados –, o melhor é olhar o número de mortes, embora seja reconhecido que há muita subnotificação”.

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