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“As ciências sociais e as humanidades não são um luxo”

foto da home: Jreberlein – CC BY 2.5

 

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No domingo, 5 de maio, o jornal francês Le Monde publicou um artigo, assinado por mais de mil influentes acadêmicos de vários países, em resposta às recentes declarações do governo brasileiro acerca do investimento em ciências humanas e sociais. Essas áreas já recebem menos investimento do que outras, como pode ser obervado no gráfico clicável ao lado, criado pelo estatístico Jairo Nicolau e divulgado em sua conta no Twitter. O manifesto, iniciativa da rede de pesquisadores Internacional do Gênero, afirma a importância dessas áreas do conhecimento para as sociedades democráticas. Quem quiser, pode subscrever o documento neste link. A lista de assinaturas, com intelectuais de peso como Judith Butler, Achilles Mbembe pode ser conferida aqui.

Outra iniciativa, de Daniel Peres, professor de filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), já conseguiu mais um milhão de assinaturas contra os bloqueios de 30% do orçamento de custeio das universidades federais, anunciados pelo ministro da educação Abraham Waintraub.

Abaixo, a íntegra do artigo publicado no domingo, traduzida por Mariluce Moura.
Brasil: As ciências sociais e as humanidades não são um luxo

Em 26 de abril, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro confirmou no twitter o que seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, havia anunciado na véspera: seu governo previa suprimir os recursos públicos destinados aos estudos de sociologia e de filosofia.

Para cursar essas disciplinas, seria necessário, no futuro, que os estudantes financiassem seus próprios estudos. Enquanto o ministro baseava sua proposta no modelo lançado pelo Japão em 2015, o presidente especificou que o ensino superior devia se concentrar em leitura, escrita e contas, e que em vez de ciências humanas, o governo federal devia investir nas áreas que trouxessem “um retorno imediato ao investimento” dos contribuintes, como veterinária, engenharia e medicina.

Por meio desta declaração pública internacional, os signatários alertam contra as graves consequências de tais medidas, que já constrangeram o governo japonês a dar marcha a ré em seguida a protestos nacionais e internacionais.

A bitola da conformidade a uma ideologia

Em primeiro lugar, a educação em geral e o ensino superior em particular não podem gerar retorno imediato do investimento: trata-se um investimento nacional para as gerações futuras.

Em segundo lugar, as economias modernas requerem não apenas competências técnicas especializadas, mas uma vasta formação intelectual e generalizada para as cidadãs e os cidadãos.

Terceiro, não cabe à classe política, em nossas sociedades democráticas, decidir o que constitui um bom ou um mau saber. A avaliação dos conhecimentos e de sua utilidade não deve ser submetida à bitola da conformidade a uma ideologia dominante.

As ciências sociais e as humanidades não são um luxo; um pensamento crítico sobre o mundo e uma compreensão rigorosa do funcionamento de nossas sociedades não deveriam ser o apanágio dos mais ricos. Enquanto universitários de múltiplas disciplinas, partilhamos uma convicção profunda de que nossas sociedades, aí compreendido o Brasil, precisam de mais – e não de menos – educação. A inteligência coletiva é um recurso econômico e um valor democrático.

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