Tatá comenta caso de plágio de 2008 no Instituto de Física da USP

ilustração: @paozinho_celestial
Eu pensei em muitos temas para essa semana, mas nada parecia bom. Normalmente eu gosto de escrever sobre algo que estou vivendo no momento, informações que tenho na hora, mas hoje parecia que eu não tinha nada. Pensei em comentar sobre a trágica história da Juliana Marins, mas eu sei que muitos acompanharam, meio que em tempo real, tudo que estava acontecendo. Bom, ela já foi enterrada e acho que, nesse momento, merece paz. Podia falar também sobre o final do semestre, mas vocês estão cansados de saber que é sempre uma labuta, com muito choro e desespero e, bom, não quero ser repetitiva. Por isso, decidi contar uma fofoca aqui, mas eu acredito que para aqueles que já eram jovens ou adultos em 2008, a história deve até ser velha.
Primeiro, vamos ao caminho que me fizeram descobrir tudo isso. Eu já comentei sobre a desvalorização da pós-graduação, tanto que tenho uma amiga cuja bolsa de mestrado foi negada pela Fapesp e o orientador a deixou sozinha, sem orientação, foi para a Itália e nunca mais voltou. Mas essa não é a história de hoje. Comentei isso porque, para ter mais chances de mestrado, ajudaria muito fazer uma iniciação científica. Mesmo que não fosse numa área que gosto tanto, seria muito bom aprender a fazer pesquisa mesmo, escrever artigo científico e tudo mais.
Então comecei minha caçada: encontrar um orientador. Estou desde janeiro pensando em quem se encaixa melhor para a área que quero seguir. Mandei e-mails para alguns professores do Instituto de Astronomia e as respostas que recebi é que não estavam pegando mais alunos de graduação para orientar. Então deixei a historia de canto por um tempo.
Em meados de abril, comecei a reenviar e-mails, mas dessa vez busquei outros professores. Tentei entrar em contato com pelo menos seis docentes do Instituto de Astronomia, mas nenhum deles me respondeu. E toda semana eu respondia meu próprio e-mail para ver se subia na caixa de entrada deles, mas nada.
Aí fiz o que não queria, comecei a procurar no meu instituto mesmo. O motivo de não querer um orientador de lá é porque a grande maioria é arrogante. Nós sabemos, obviamente, que 90% deles são formados desde antes a minha mãe nascer, com ensino médio em escolas privadas, e esse negócio de pobre que veio da escola pública ainda é novidade para eles. Então uma nota cinco no histórico ou reprovações são motivo de histeria, de falar para o aluno que ele não tem inteligência e nem capacidade para pesquisa.
Estava pronta para ouvir esse tipo de coisa e comecei a procurar alguém. Vi o currículo Lattes de todo mundo e achei um professor. Gostei muito dos projetos de iniciação científica que ele orientou e vi que três pessoas que normalmente são das minhas turmas trabalharam com ele. Falei com o meu amigo Giovanni sobre as pessoas que trabalharam com ele e ainda falei assim: “esse professor recicla projeto, fulano meio que pesquisou o método e siclano aplicou o método que fulano pesquisou”. Ele respondeu: “eu vi, esse professor foi envolvido em caso de plágio”. Eu não tive nem reação, juro para vocês. Depois pedi para ele me enviar o artigo, e estava lá: 8 de outubro de 2008, artigo publicado pela Folha de S. Paulo, “Caso de plágios entre físicos da USP derruba o vice-diretor da Fuvest”. SIMMMM, o professor envolvido em plágio era o vice-diretor da Fuvest.
E foi assim que eu descobri que o instituto já esteve envolvido em escândalo, que gerou até matéria. Obviamente, nunca houve admissão de culpa, e a USP logo saiu em defesa do professor, questionando o tom da reportagem.