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Um ato pelo início imediato da vacinação no país
Covid-19

por | 12 jan 2021

Em entrevista coletiva, pesquisadores e médicos apresentaram resultados dos testes clinicos da CoronaVac

Foto: Governo do Estado de São Paulo

A entrevista coletiva para o anúncio da eficácia global, de 50,38%, e de outros dados detalhados dos resultados dos testes clínicos da CoronaVac, iniciada perto das 13 horas desta terça-feira no Instituto Butantan, foi, sem dúvida, um ato político. A começar da primeira frase do secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, passando praticamente por todas as falas dos dez pesquisadores e/ou médicos alinhados à sua direita e à sua esquerda, o que se repetiu foi uma espécie de clamor, às vezes mais claro, outras vezes, um tanto obscuro e empolado, para que o país inicie imediatamente a vacinação.

“É o momento de exigir que o Brasil comece a vacinação o mais rapidamente possível, com as vacinas que já temos no país, mas também adquirindo outras”, disse Gorinchteyn, antes de apresentar todos os participantes da coletiva e passar a palavra ao diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. E de novo, o recado político tinha ali endereço certo.

“Nenhuma companhia apresentou ao público dados de eficácia de sua vacina antes de ter autorização de uso emergencial. Nós apresentamos para demonstrar nosso comprometimento com a total transparência”, disse Covas, lembrando as críticas ao acordo do Butantan com uma empresa chinesa, tratado “como se fosse um pecado”. Não o tivessem feito, disse, “não teríamos agora 6 milhões de doses prontas e 4 milhões em processamento para minorar o sofrimento e as mortes do povo brasileiro”.

Slide exibido durante a coletiva

O diretor do Butantan historiou o que ele mesmo chamou de “a saga da CoronaVac”, destacou a escolha deliberada para os ensaios clínicos por um grupo populacional de alto risco (pessoal de saúde na linha de frente do combate à covid), com incidência da doença acima de 20%, o que até aqui não foi opção de nenhuma outra iniciativa, justificando que assim se teria o ambiente mais duro teste para a vacina.
Dimas Covas listou os três estudos da vacina com subgrupos específicos que o Butantan está iniciando, ou seja, com idosos, grávidas após o primeiro trimestre de gestação e adolescentes de 13 a 17 anos, além de um chamado Projeto S, que vai avaliar o papel da vacina sobre a pandemia.

O roteiro da coletiva era longo e tardou até que o diretor médico do Instituto Butantan e coordenador do estudo, Ricardo Palácios, mostrasse dados de eficácia obtidos nos testes para a CoronaVac, depois de muitas explicações sobre a inadequação de uma comparação grosseira com outras vacinas, que se valem de distintas plataformas tecnológicas e ensaios em amostras populacionais diferentes.

Em resumo, foi de 50,38% a chamada eficácia global da Coronavac, que resulta de uma razão matemática entre infectados no grupo vacinado no estudo (85 pessoas em 4.653) e infectados no grupo de controle (que toma placebo, um preparado sem efeito, e que somaram 167 pessoas em 4.599), Trata-se de um percentual baixo no panorama das vacinas já em uso no mundo, ou seja, a da Pfizer, com 95%, a da Moderna, com 94,1%, a russa, do Instituto Gamaleya, com 90%, a da Sinopharm, com 79%, e a da AstraZeneca, com 62% a 90%.

Entretanto, Palácios chamou bastante a atenção para outros dados de eficácia da Coronavac na prevenção de casos moderados e graves, que já tinham sido apresentados na semana passada. Ou seja, a proteção propiciada de 100% contra as formas mais graves da doença, que com certa frequência resultam em morte – ainda que, adiante, explicasse que na vida real, fora do experimento controlado, não dá para garantir que nenhum vacinado vai morrer – e a diminuição de 77,97% (78%, nas contas da semana passada) do número de casos leves e do números de casos a exigir atendimento ambulatorial.

Foi justamente esse o dado que a conhecida médica infectologista do Hospital Emílio Ribas, Rosana Richtmann, fez questão de destacar em sua fala. “Para mim, o dado mais importante é esse percentual de 78% porque consegue passar uma informação sobre o que a vacina vai aliviar na sobrecarga da doença para o sistema de saúde e para os pacientes. Na escalada de medos que acomete o paciente, há o da hospitalização, depois, o da ida para a UTI, o da intubação e da morte, por fim, e esses 78% permitem diminuir a ansiedade dos doentes”, ponderou.

Saldo da coletiva: mais dados sobre os testes clínicos da CoronaVac e seus resultados, a visão de que é uma boa e segura vacina baseada em uso de vírus inativado, com nível de eficácia similar ao das vacinas tradicionais contra coqueluche e gripe, por exemplo, e a clara noção de que não há razões científicas e técnicas para retardar o começo da vacinação no país.

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