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Pequena história sobre o nascimento de um samba: “Tempo e Espaço” de Paulo Vanzolini

Paulo Vanzolini, Vanzo, sempre prezou suas amizades e inimizades — que por vezes intercambiava. Eu o conheci no começo da década de 1970 quando ele, amigo do professor Oscar Sala, chefe do departamento de Física Nuclear da USP, visitava com frequência o Instituto de Física, para entre outras coisas trabalhar na evolução e aperfeiçoamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Fapesp.

Nessa época ele me foi apresentado e pediu-me para frequentar o curso de “Introdução à Computação” que eu ministrava naquele Instituto. Aluno brilhante. Aí, ele espalhou que eu lhe ensinara a computação que ele viria a usar para classificar seus bichos. Mentira. Quem o ajudou nessa tarefa foi um físico recém-formado, Mario Ferraretto, então estagiário no grupo que formávamos sob coordenação de Sala (segundo Vanzo, o “burro mais inteligente que ele conhecia”).

Ficamos amigos e junto com Trentino Polga, notável físico experimental, com frequência íamos aos bares de São Paulo ouvir seus amigos músicos. Por algum motivo que não consigo lembrar, Vanzo decidiu compor um samba cujo tema fosse alguns conceitos de física que, por ser grande cientista, conseguia intuir e, por ser grande poeta, conseguiu transpor para os versos de “Tempo e Espaço”.

Acompanhamos de perto a gestação dessa canção que ele nos ia mostrando aos poucos. Sua receita para escrever samba era: “ter uma ideia e trabalhar em cima”. Trentino, por ser físico (eu era engenheiro), deu várias sugestões que, naturalmente, foram descartadas. Ele gostava dessa música. Alguém aí não gosta?


Silvio Paciornik é professor aposentado da USP

 

Tempo e espaço

Tempo e espaço eu confundo,
E a linha de mundo é uma reta fechada.
Périplo, cíclo, jornada de luz consumida
E reencontrada.
Não sei de quem visse o começo
E sequer reconheço
O que é meio o que é fim
Prá viver no teu tempo é que eu faço
Viagens no espaço,
De dentro de mim.

Das conjunções improváveis
De órbitas instáveis
É que eu me mantenho
E venho arrimado nuns versos,
Tropeçando universos,
Prá achar-te no fim

Deste tempo cansado de dentro de mim.

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