jornalismo, ciência, juventude e humor
Sonhos de uma noite de COP30

por | 5 nov 2025

Ilustração: Kairo Rudáh

Luiza Moura imagina o que gostaria de ver discutido na COP

Foram muitos meses de ansiedade, planejamento, sonhos, expectativas, medos, frustrações e anseios. E eis que ela finalmente chegou: é tempo de COP30! As autoridades estão chegando, os ativistas estão se mobilizando, o presidente Lula e a ministra Marina Silva já estão na capital do Pará, as credenciais já foram enviadas por e-mail, e a programação saiu (embora esteja meio espalhada em diferentes lugares, aqui tem uma boa parte). E, no meio de todo esse caos e toda essa tensão pré-COP, eu fiquei pensando quais são os meus sonhos para essa Conferência das Partes. No meu mundo ideal, quais acordos sairiam desse encontro? Vamos falar um pouco sobre isso.

Acho que, de bate-pronto, o que eu posso dizer é que no meu mundo dos sonhos, a Conferência das Partes de Belém seria o funeral dos combustíveis fósseis. Mas não no discurso. Na prática. Seria muito importante que os países participantes da COP acordassem e concordassem em parar com a exploração de novas fontes de combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, topassem investir o seu dinheiro em um processo de transição energética justa e democrática.

Tá, eu sei. Isso não vai acontecer. Estamos no país que acabou de aprovar pesquisa em busca de petróleo na Foz do Amazonas. Mas, como eu disse, são sonhos de uma ambientalista.

Outro ponto que também seria muito importante para mim é a verdadeira valorização da participação das juventudes nas negociações e nas discussões da Conferência. Eu estou atualmente com 23 anos, atuo no ativismo socioambiental desde que tinha 19. Posso dizer, sem pestanejar muito, que é a minha geração que tem sido ponta-de-lança e segurado o rojão da luta pela sobrevivência das pessoas, dos ecossistemas e do planeta.

Jovens de todos os continentes estão se articulando para estar em Belém. Assim como estiveram em Glasgow, em Baku, em Sharm El-Sheikh e em tantos outros espaços de negociação. Mas, nossas vozes ainda são extremamente silenciadas, ignoradas ou descredibilizadas. Ainda somos vistos como rebeldes sem causa, como bagunceiros ou baderneiros. Mas, na real, somos nós que vamos sofrer os principais impactos da crise climática. São a minha geração e as seguintes que vão ver o planeta sendo destruído aos pouquinhos.

Pode ser que eu esteja sendo ambiciosa demais, sonhando demais, querendo atingir coisas que não estão nem perto de sair do papel. E acho que tem um pouco disso mesmo. Mas sou uma forte crente de que o sonho é a matéria-prima da política, como costuma dizer Marina Silva. Se eu não sonhar com uma COP que pode ser bem sucedida, já vou estar derrotada antes de começar a lutar.

Sem ingenuidade, sem achar que a conferência é uma festa e tendo a plena certeza de que nosso futuro e nosso presente estão sendo decididos em Belém, eu escolho sonhar com um encontro que seja produtivo, coerente e revolucionário e trate o tema com a seriedade necessária, entendendo que estamos atingindo sérios limites planetários. Que seja uma COP que trabalhe para garantir os sonhos das novas gerações. É assim que deve ser.


Luiza Moura é bacharela relações internacionais pela PUC-SP e ativista socioambiental

Compartilhe:

Colunistas

Luiza Moura

Luiza Moura

Thaciana de Sousa Santos

Thaciana de Sousa Santos

Vinicius Almeida

Vinicius Almeida

Acompanhe nas redes

ASSINE NOSSO BOLETIM

publicidade