Raramente lembro os meus sonhos. Já cheguei a acordar no meio da madrugada e, sentado na cama, passei em revista e repeti várias vezes mesmo, racionalmente, ‘estou acordado, sonhei com tal coisa, preciso guardar e contar para todo mundo amanhã’. Quando levanto… apagão. Pior que o do Felipão contra a Alemanha. Nenhum registro. Às vezes penso em deixar um bloquinho pronto na cabeceira da cama para registros emergenciais a respeito de histórias vividas durante o sono. Desisto logo, tenho preguiça. Só quero mesmo poder aproveitar as poucas horas de descanso, segurando mentalmente a andança dos segundos do relógio e torcendo muito para o celular não tocar aquela maldita musiquinha suave que anuncia ‘é hora de acordar’.
Pois na sexta-feira da semana passada, entre uma pescada e outra no sofá, um pouco antes do almoço (tinha pulado cedíssimo da cama, estava morto de sono), aquela pestana boa que vem chegando de repente e te toma de forma arrebatadora, li nos jornais que um trabalho coordenado por Gilles Laurent, do Instituto Max Planck de Pesquisa sobre o Cérebro, na Alemanha, publicado na Science, constatou que o dragão-barbudo (Pogona vitticeps), espécie de lagarto originária da Austrália que chega a alcançar 60 centímetros de comprimento, provavelmente sonha como os humanos. Sabia-se até aqui que esse era um privilégio alcançado apenas pelos mamíferos e pelas aves, que possuem cérebros mais complexos. Parece que a evolução foi generosa também com os répteis.
Usando eletrodos conectados aos neurônios e monitoramento feito por câmeras infravermelhas, boas para enxergar no escuro, o estudo sugere que a atividade cerebral no dito lagartão é muito semelhante àquela registrada na nossa espécie, quando dormimos. Há alternância inclusive entre o sono REM (quando os movimentos dos olhos são rápidos) e do sono de ondas lentas, mais profundo. Fico aqui matutando, intrigado – com o que será que sonham esses animais? Com o almoço e o jantar do dia seguinte? As lições que precisam ensinar aos filhotes? Têm pesadelos com os predadores que os perseguem? Acordam suados e com taquicardia no meio da noite? Ficam preocupados com a elegante aparência e imaginando que já é hora de aparar a barba desgrenhada? Seria divertidíssimo se pudéssemos mapear e desenhar essas imagens.
Depois do almoço, na mesma sexta, e após também aquela sesta revigoradora e providencial para recarregar as energias (não adianta perguntar o que sonhei, não faço a menor ideia), passei um bom tanto da tarde me deliciando com o site ‘nomes do Brasil’, criado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Acho que não fui só eu quem adorou a brincadeira – muitos amigos nas redes sociais e nas rodas de conversas que frequentei depois narravam suas peripécias com a engenhoca.
Por meio de eficiente cruzamento de dados, que considera as informações apuradas pelo Censo de 2010, e usando um ágil e prático mecanismo de busca, o site permite ter acesso a graciosas curiosidades sobre nossos nomes. Descobri, por exemplo, que há no Brasil 1.772.197 pessoas que se chamam Francisco. Prazer, xarás. Sou nada original. É o sexto nome mais popular do país. No ranking de estados, a maior concentração de Chicos está no Ceará (6.155,41 para cada 100 mil habitantes), seguido por Piauí, Rio Grande do Norte, Acre, Maranhão e Paraíba. Talvez venha daí meu apreço todo especial pela região Nordeste. São Paulo ocupa a modesta décima sexta posição nessa lista (487,40 para cada 100 mil). O pico de nascimentos de Kikos aconteceu na década de 1960. Os cinco nomes mais populares e que estão à minha frente são, na ordem, Maria, José, Ana, João e Antonio. A Bíblia ditando padrões. Gostou, né? Corre lá para procurar seu nome – www.censo201.ibge.gov.br/nomes.
E pensar que ainda há quem resmungue que a ciência é chata, monótona e sem graça. Tem até governador graúdo, bico e plumas, estado mais rico do país, que reclama de ‘pesquisas sem utilidade prática’. Durmam com um barulho desses (será que ao menos dessa vez vou conseguir lembrar os meus sonhos?).