Colunista de meio ambiente relembra o evento climático extremo que atingiu o estado gaúcho

Ilustração: Kairo Rudáh
Na semana passada, meio despretensiosamente, me peguei pensando sobre o cavalo Caramelo. Vocês lembram dele? Foi aquele cavalo que ficou ilhado por dias em cima do telhado de uma casa durante as enchentes do Rio Grande do Sul no ano passado. Eu fui até pesquisar sobre ele e descobri que ele tá super bem, sendo cuidado pelo pessoal de uma universidade em Canoas. Mas ter lembrado do Caramelo me fez lembrar também que as enchentes tenebrosas do ano passado já estão completando um ano.
O caos climático que atingiu o estado no ano passado ainda é sentido por muitas pessoas. Os dados mostraram que, mesmo seis meses depois das enchentes, cerca de mil e setecentas pessoas ainda estavam desalojadas e vivendo em abrigos. Fato é que as enchentes do Rio Grande do Sul ainda causam impacto e continuam marcando a vida de centenas de pessoas.
Mas o que também me preocupa é o esquecimento. Claro, ninguém esquece as enchentes em si e muito menos as suas consequências. Porém, será que, quando falam das enchentes, as pessoas lembram que elas foram agravadas devido ao colapso climático que estamos vivendo? E que a única forma de combater isso é construindo políticas públicas efetivas? Nas eleições municipais do ano passado, a capital Porto Alegre reelegeu o prefeito Sebastião Melo, o mesmo que foi responsável por ignorar avisos e afrouxar políticas públicas, o que certamente influiu no estrago das enchentes do ano passado.
As imagens que vimos, a sensação de desespero e desamparo, o medo e a preocupação que sentimos por amigos e parentes que moram no Rio Grande do Sul são verdadeiramente inesquecíveis. A falta de políticas públicas, o descaso de autoridades e a negligência de certos setores em lidarem com a crise climática e suas consequências também devem ou deveriam ser.
Fiquei muito feliz ao saber que o cavalo Caramelo está bem, saudável e recuperado do trauma que viveu no ano passado ao ficar ilhado. Será que podemos dizer o mesmo sobre as centenas de vítimas humanas dessas inundações? Quantas receberam o suporte psicológico necessário? Quantas estão morando em condições adequadas? Quantas ainda estão em abrigos? Vale lembrar que matérias já mostraram que os impactos desse evento climático extremo podem ser comparados aos traumas de guerra.
Devemos continuar atentos e vigilantes, cobrando as pessoas certas, exigindo políticas públicas de qualidade, que de fato olhem para as pessoas mais vulnerabilizadas. E, é claro, precisamos sempre continuar lembrando do que aconteceu no Rio Grande do Sul em abril e maio de 2024.