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Pesquisadores reclassificam espécies de porco-espinho, e uma delas pode estar em extinção
Biodiversidade

por | 28 out 2021

Agência Bori

  • Ao examinar 280 espécimes desses roedores do continente americano, foi encontrada uma nova espécie, com duas subespécies
  • As espécies agora conhecidas são Coendou prehensilis, Coendou baturitensis e Coendou longicaudatus
  • Encontrada apenas na Mata Atlântica, a espécie Coendou prehensilis sofre um risco iminente de extinção

Coendou longicaudatus boliviensis, encontrado no Cerrado e Pantanal (foto: pesquisadores / arquivo)

Ao investigar a morfologia dos eretizontídeos, roedores popularmente chamados de porcos-espinhos, pesquisadores brasileiros identificaram que há uma terceira nova espécie: a Coendou longicaudatus. Além disso, eles descobriram que outra espécie já conhecida, a Coendou prehensilis, que se acreditava ser bem distribuída no continente sul-americano, só é encontrada em área ameaçada da Mata Atlântica e sofre o risco de extinção. Os dados são de estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) publicado essa semana na revista Journal Of Zoological Systematics And Evolutionary Research.

A descoberta foi feita após a equipe examinar morfologicamente 280 espécimes de eretizontídeos, das quais 140 são espécimes ​​com peles completas e/ou crânios do complexo Coendou prehensilis. Os autores identificaram que, além da própria Coendou prehensilis e da também já conhecida Coendou baturitensis, há uma nova espécie chamada Coendou longicaudatus, que possui duas subespécies: Coendou longicaudatus longicaudatus (na Amazônia) e Coendou longicaudatus boliviensis (no Cerrado e Pantanal).

O resultado faz parte da tese de doutorado do biólogo Fernando Heberson Menezes, da UFC, que revisou toda a organização e classificação dos seres vivos do gênero Coendou. As espécies foram classificadas de acordo com a descrição baseada em características de pele, crânio e cor e na leitura, por sequenciamento genético, do DNA extraído de amostras de sangue.

O antes e depois da pesquisa

A caracterização da espécies de eretizontídeos começou em 2013, quando os biólogos Anderson Feijó e Alfredo Langguth, da UFPB, descobriram que as populações de roedores da Serra de Baturité, no Ceará, apresentavam características morfológicas muito distintas e, a partir de um artigo científico, descreveram uma nova espécie chamada Coendou baturitensis, em homenagem ao local da descoberta. No ano seguinte, o então estudante de graduação Heberson Menezes (UFC) começou a trabalhar com essa nova espécie. “Para nossa surpresa, identificamos que, ao invés de duas, são três espécies diferentes. E mais que isso, descrevemos que Coendou longicaudatus possui duas subespécies”, destaca Menezes.

Os autores também trazem um mapeamento atualizado da existência destas espécies. Eles descobriram que a Coendou baturitensis não ocorre somente no Ceará, como se entendia, mas que ela se estende até o Pará.

Por sua vez, a Coendou prehensilis, antes considerada como amplamente distribuída e de menor preocupação quanto ao seu status de conservação, pode estar, na realidade, sofrendo um risco iminente de extinção. Isso porque, após as análises, descobriu-se que o único local de ocorrência da espécie é em um dos resquícios de Mata Atlântica mais ameaçados do planeta, chamado de Centro de Endemismo Pernambuco. Essa região corresponde a uma espessa e fragmentada faixa de mata úmida entre o Rio Grande do Norte e Alagoas. Três das oito extinções globais de espécies brasileiras são dessa região.

“É preciso desenvolver projetos com urgência para avaliar corretamente o status de conservação dessa espécie e traçar planos efetivos para evitar o seu desaparecimento”, alerta o coautor Hugo Fernandes.

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