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Pesquisa revela biopirataria digital como ameaça à conservação de abelhas brasileiras

Agência Bori

  • Estudo com abordagem inédita revela os principais sites e regiões do Brasil de vendas ilegais de ninhos de abelhas sem ferrão e quais são as principais espécies visadas por esse comércio
  • Abelhas jataí, uruçu, mandaguari e abelhas-mirins são as principais espécies visadas
  • Prática de comércio ilegal eleva, também, a disseminação de parasitas

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Artigo publicado na quarta (1) na revista Insect Conservation and Diversity revela que o comércio ilegal de ninhos de abelhas sem ferrão realizado na internet é uma das principais ameaças à conservação de espécies brasileiras. Utilizando ferramentas modernas de monitoramento de conteúdos digitais, o biólogo Antônio F. Carvalho, pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), desenvolveu métodos de mineração de dados na internet para analisar anúncios de vendas de abelhas sem ferrão e desvendou uma rede de vendedores que opera ilegalmente o comércio em mercados de vendas online no Brasil. O comércio de abelhas sem ferrão no Brasil é regulamentado pela Resolução CONAMA 496/2020.

Dezenas de vendedores foram encontrados em 85 cidades brasileiras, a maioria na Mata Atlântica, revelando um comércio altamente especializado na exploração – retirada de ninhos da natureza, multiplicação e criação – e no comércio de colônias de abelhas sem ferrão para longas distâncias. As colônias foram registradas a preços variando entre 70 e 5 mil reais, sendo comercializadas em caixas de madeira de diversos modelos ou em iscas de garrafas pet, sobretudo para localidades fora das áreas onde as espécies ocorrem naturalmente.

Os principais grupos visados pelos vendedores em 308 anúncios observados no estudo foram jataí (Tetragonisca angustula), diversas espécies de uruçu (Melipona spp.), de mandaguari (Scaptotrigona spp.) e de abelhas-mirins (Plebeia spp.). Entre as mais cobiçadas, estão a uruçu-capixaba (Melipona capixaba) e a uruçu-nordestina (Melipona scutellaris), abelhas em perigo de extinção. Oito espécies de outros grupos, embora em menor quantidade, também foram registradas pelo pesquisador: boca-de-sapo (Partamona helleri) – uma abelha sem potencial melífero devido à baixa salubridade do mel – e mombucão (Cephalotrigona capitata), cujo mel não apresenta sabor palatável. “Visto em conjunto, esses dados revelam um preocupante mercado de criadores e de colecionadores ávidos pelos mais diferentes grupos, independente do potencial produtivo da espécie em alguns casos”, analisa Carvalho.

Abelhas sem ferrão são importantes polinizadores de árvores que ocorrem em florestas tropicais e de plantas comerciais. Esses insetos são muito utilizados no Brasil para a produção de mel, uma atividade cultural e econômica conhecida como meliponicultura, que contribui de diversas maneiras para a conservação das abelhas e dos ecossistemas onde elas estão inseridas.

“O Brasil tem a mais consolidada e talvez a maior indústria de meliponicultura do mundo”, afirma o pesquisador. Existem mais de 240 espécies de abelhas sem ferrão no país e muitas são comumente mantidas em colmeias artificiais por criadores que, em alguns casos, transportam ninhos pelo país como parte dessa atividade. “Devido ao comércio desempenhado na internet, muitas colônias são vendidas de forma ilegal e levadas para locais onde aquelas espécies não ocorrem, o que facilita a disseminação de simbiontes que ocorrem nos ninhos, como parasitas, predadores e comensais, e, ainda, a introdução de espécies, populações e genes em novos ambientes”, alerta o pesquisador.

O artigo aponta que a biopirataria digital é uma ameaça real e imediata, que precisa de atenção e combate. “Muitas discussões estão focadas nos efeitos do aquecimento global na biodiversidade, mas temos questões muito urgentes para tratar. Espécies sumirão da natureza devido ao tráfico muito antes que o clima seja capaz de afetá-las negativamente”, conclui Carvalho.

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