Se você não sabe, pergunte. Se já sabe, pergunte mais. Faça as contas de quantas oportunidades você perdeu por vergonha de perguntar. Melhor, por vergonha de declarar a própria ignorância. No entanto ignorância não é defeito. Significa tão somente ignorar.
Ao fingir que sei alguma coisa que não sei continuo sem saber. Se assumo minha ignorância vou atrás das respostas. Perguntar é o atalho mais curto na longa estrada do conhecimento. Veja que essa nossa conversa não tem nada de abstrata ou fabulosa.
Ela é o feijão com arroz para começarmos ou continuarmos qualquer trabalho. Se você é um prestador de serviço, sua primeira providência é entender o que o cliente quer, ou imagina que quer. Para isso você terá que conhecer particularidades tanto do produto quanto do próprio cliente.
Comece perguntando o que, com quem, como ele faz. E, nunca se esqueça, pergunte por que ele faz o que faz? Pois é característica do ser humano dar um sentido às suas ações. Tanto é que não ver sentido no próprio trabalho leva muitas pessoas à loucura.
Alguém que fabrica parafusos não o faz apenas para ganhar dinheiro. Faz também porque parafusos ajudam o mundo a rodar. Estão nos super aviões e nas inocentes tesourinhas sem ponta. Disparando perguntas para quem fabrica parafusos, você será brindado com informações que podem surpreendê-lo.
Ao transformar informações em conhecimento, você juntará elementos para fazer bem o seu trabalho. Talvez seja vender esses parafusos, bolar um site para a fábrica de parafusos, organizar um estande para exibi-los, postar um texto sobre parafusos no seu blog.
O melhor é que ao perguntar sobre parafusos, você terá respostas acerca do mercado de parafusos, de máquinas que fabricam parafusos, dos 1000 tipos e modelos de parafusos. Isso poderá ajudá-lo com um futuro cliente que não fabrica parafusos, mas desenvolve tecnologias.
No mínimo, você saberá algumas coisas sobre os parafusos no mundo. Pode anotar, nosso cérebro funciona por associações. Ao saber sobre alguma coisa, a gente fica menos ignorante em relação a várias outras. Uma única pergunta pode entregar muitas respostas.
Então, aquela perguntinha que você teve vergonha de fazer vai custar um trabalho danado para encontrar a resposta. De repente, nem o Santo Yahoo, nem o São Google poderão salvá-lo. Porque eles sabem responder, mas não sabem perguntar.
———————————————————————–
Fernanda Pompeu é webcronista. Escreveu roteiros para a série de TV Mundo da Lua, transmitida entre 1991 e 1992 na TV Cultura. É autora do livro 64, publicado pela Brasiliense. Mantém o site Fernanda Pompeu Digital.