Luiza Moura avalia o significado e o impacto da morte do Papa Francisco para a causa ambientalista

ilustração: Kairo Rudáh
Na segunda-feira, dia 21 de abril, o Papa Francisco morreu, aos 88 anos. Entre conclaves, intrigas, homenagens e orações, fiquei pensando também que perdemos um ambientalista, que vinha desempenhando um papel importante na defesa da causa socioambiental, na defesa das comunidades menos favorecidas, e um grande defensor da paz. Inclusive, Francisco pediu inúmeras vezes por um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Vamos focar aqui na discussão socioambiental, claro. Acho que o Papa Francisco talvez tenha sido um dos líderes mundiais que mais entendeu e compreendeu a urgência de falarmos sobre a crise climática e de mudarmos a forma como nos relacionamos com a natureza. Ainda em 2015, dois anos depois de assumir o pontificado, Francisco publicou a Encíclica Laudato Si, um texto importantíssimo que trata sobre “o cuidado com a nossa casa comum” (a Encíclica pode ser acessada neste link).
Nessa encíclica, o pontífice crítica o consumo exagerado e desenfreado e o modelo de produção que adotamos até aqui, que coloca a natureza nesse local menor, como algo a ser predado. Em tempos de negacionismo, de ascensão da extrema-direita e de descumprimento de normas internacionais, o texto do Papa Francisco constitui-se como um dos documentos mais importantes para embasar e amplificar as discussões sobre a urgência de agirmos contra a crise climática.
Além disso, Francisco também foi grande defensor e entusiasta dos conhecimentos e dos direitos dos povos indígenas e tradicionais, entendendo sua importância e sua relevância. Em um evento no ano passado, o papa chegou a dizer: “O diálogo aberto entre o conhecimento indígena e as ciências, entre as comunidades de sabedoria ancestral e as das ciências, pode ajudar a enfrentar questões cruciais como a água, as mudanças climáticas, a fome e a biodiversidade de uma forma nova, mais integral e mais eficaz”. Repito: em tempos de obscurantismos e negacionismos, falas como a do Papa foram fundamentais para pautar a discussão de forma correta e para, sinceramente, acalentar o coração de ambientalistas ansiosos e desesperançosos.
A perda do Papa Francisco trará grandes novidades para o cenário político e ambiental. Será que o novo pontífice continuará pautando a questão ambiental como ponto central para o mundo? Será que teremos um papa disposto a continuar o diálogo com os povos e as comunidades indígenas? Será que vamos retroceder muitos anos e teremos um novo negacionista no comando do Vaticano e da Igreja Católica? São todas perguntas que começarão a ser respondidas nas próximas semanas.
Mas, acima de tudo, o fato é que perdemos um ambientalista. Um grande ambientalista do século XXI.