Luiza Moura avalia a edição mais recente da Conferência das Partes sobre mudanças climáticas
A COP 29, que aconteceu no Azerbaijão, acabou na semana passada depois de longos dias de negociações e discussões entre as partes. É comum que a cada ano a conferência das partes que discute questões climáticas tenha um tema, uma espécie de guarda-chuva, que vai nortear e pautar a maioria das discussões. Esse ano, em Baku, a COP foi chamada de “COP do financiamento”, porque deveria trazer soluções para o financiamento climático, sem dúvidas um dos aspectos mais centrais em toda a discussão sobre a construção de políticas de mitigação e adaptação.
É importante dizer que já existia um acordo que dizia que os países mais ricos deveriam contribuir com cem bilhões de dólares para o financiamento climático de países do sul global. É importante dizer também que esse acordo nunca foi cumprido de fato e esse dinheiro nunca apareceu. Esse ano, ativistas, cientistas, pesquisadores e entidades da sociedade civil estavam pressionando para que o acordo novo chegasse à casa dos trilhões de dólares. Isso porque a crise climática é mais real do que nunca e as medidas de adaptação e mitigação são mais urgentes do que nunca.
Os países do Sul Global são, historicamente, mais vulneráveis e correm mais riscos climáticos do que os países ricos. Além disso, contribuíram menos para que chegássemos nessa situação de colapso. Políticas de adaptação e mitigação custam dinheiro, assim como as perdas e danos. Por isso, o financiamento climático é fundamental para que esses países possam se preparar e para que consigam lidar com a crise que já vivemos.
Porém, a falta de ambição dos líderes globais ficou, mais uma vez, evidente. Foram longos dias discutindo o novo acordo de financiamento e quanto os países ricos iam colocar em jogo. Repesentantes da sociedade civil virou madrugadas no estádio de Baku pressionando as partes para que um novo acordo fosse de fato assinado e para que esse novo documento trouxesse quantias suficientes para que novas políticas pudessem ser construídas.
Bom, o novo acordo saiu. Já na madrugada, aos quarenta e cinco do segundo tempo, as partes na COP concordaram com um acordo de 300 bilhões de dólares por ano para o financiamento climático. É muito pouco. Entidades ambientais, a sociedade civil, os países do Sul Global e até cientistas estão bastante insatisfeitos com essa decisão. A quantia é insuficiente para o que é necessário e, mais uma vez, os países pobres vão ter pagar a conta de estarmos vivendo essa crise.
A COP 29 termina com o gosto amargo de um encontro esvaziado, quase ignorado por diversos líderes globais, que excluiu a sociedade civil de espaços importantes de tomada de decisão e chegou a um acordo de financiamento insuficiente e incapaz de fazer os países levarem a cabo suas tarefas. No ano que vem, a COP é em Belém, aqui no Brasil. Vamos torcer para que tenhamos um desfecho melhor do que tivemos em Baku.