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Muito talento, arte e criatividade na impressionante abertura das Olimpíadas 2016. E tudo apoiado numa tecnologia poderosa

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A floresta transformou-se em um país tomado por plantações… Por grandes cidades erguidas repentina e vigorosamente do chão. E vieram os traços geniais do arquiteto Oscar Niemeyer no caminho da garota de Ipanema. Uns tantos momentos entre milhares de instantes mágicos, de imagens e cenas maravilhosas concebidas e dirigidas para transformar a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2016, no Maracanã, Rio de Janeiro, na sexta, 5 de agosto, num espetáculo arrepiante e inesquecível para 3,5 bilhões de telespectadores.

Na direção de tudo isso, os cineastas Fernando Meirelles, Andrucha Waddington, mais a cineasta/dramaturga/cenógrafa Daniela Thomas, em afinação estreita com a artista plástica Rosa Magalhães, com o suporte da produção executiva de Abel Gomes, cenógrafo, e coreografia espetacular assinada por Deborah Colker e executada por centenas de virtuosos bailarinos-acrobatas. E dá-lhe, nessa plasticidade lábil, nesse cenário mutante de real valor, a suavidade do hino nacional de Paulinho da Viola, a força do canto de Ossanha de Elza Soares, Caetano, Gil, etc, etc.

Pois bem, entranhada nesse banquete visual, sonoro e sensorial soberbo, estava uma técnica de arte digital que altera completamente a percepção original que teríamos de uma imagem, o video mapping, ou vídeo mapeamento. O que é isso? A rigor, uma projeção realizada em superfícies irregulares, que brinca com a arquitetura e transforma qualquer lugar em uma tela de vídeo dinâmica, e assim cria uma ilusão de ótica.

O controle dessa ferramenta na abertura do Rio2016 estava com Spetto, um dos pioneiros da técnica de VJing, que é a manipulação em tempo real de vídeos. Foi ele, em outras palavras, o artista responsável pelas projeções da cerimônia de abertura.

“Foram cinco longos meses, mas que agora parecem ter passado tão rapidamente”, disse ele num post no facebook. Spetto atua há 17 anos como VJ e tornou-se uma referência mundial em Large Scale Projections, Vídeo Mapeamento e em pesquisa de novas tecnologias e formatos de projeção. É dele a criação da plataforma VJ University, voltada ao ensino e treinamento de técnicas artísticas.

Lina Lopes, designer que estuda o vídeo mapping em seu mestrado pela Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo, tenta detalhar a técnica: “Imagine que você está projetando uma manga de camiseta, por exemplo. O tecido é plano, o pensamento de quem vai confeccionar a camiseta parte deste material plano para envolver um braço que tem espessura, volume e curvas. O vídeo seria o tecido, e o braço, o suporte para a projeção”. O desafio é, então, produzir um material visual que se encaixe naturalmente sobre as edificações e outras superfícies irregulares e ainda dialogue com essas formas.

Em outras palavras, a técnica, que surgiu em meados dos anos 2000 e teve sua primeira instalação em grande escala em 2005, permite aos artistas criar dimensões extras e noções de movimento em objetos estáticos. As projeções podem ser bidimensionais (2D), com mapeamento em dois eixos, sem levar em conta a profundidade, ou tridimensionais (3D), que trabalham com os três eixos na produção do conteúdo que será projetado.

Da ideia ao espetáculo, montar um video mapping envolve diversos passos e profissionais. Uma projeção em grande escala, como a da abertura da Rio 2016, demanda um arquiteto que ajudará a traçar a planta baixa do local que receberá a projeção, o desenho frontal, os cortes e os ângulos. E com os números assim gerados se pode determinar quais e quantos projetores serão usados, explica Lina Lopes. No Maracanã foram 140 projetores.

Tais informações permitem a criação de uma réplica virtual do espaço onde a equipe trabalhará definindo os pontos onde serão colocados os projetores e os tipos de lentes que serão usadas. Também é aí que começa a engenharia de hardware, isto é, o projeto dos equipamentos que serão usados, tais como cabeamentos, centrais e computadores. Definido isso, é tempo do design e criação dos gráficos, definição dos formatos de vídeos e extensões que devem ser usadas na projeção.

O “mapping” é o grande momento, quando será usado um software de edição de vídeos para encaixar os vídeos, ajustando o conteúdo gráfico ao espaço real. Esse “encaixe” das imagens se dá em tempo real. Assim como um DJ coloca as músicas durante uma festa, o VJ (video jockey) manipula as imagens, acompanhadas pelo áudio, em tempo real, enquanto rola o espetáculo. Haja desafio!

Mas o Brasil, segundo Lina Lopes, é um dos países que mais usam o vídeo mapping e um dos que mais se apropriaram da linguagem em todas as escalas. Não é à toa que “os artistas brasileiros de vídeo mapping são tão bem vistos no cenário internacional”, ela diz.

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