As estatísticas não confirmam, mas o número de tropeços por cidadão na noite deste 31 de janeiro pode aumentar muito. A culpa não será das calçadas esburacadas das grandes cidades, ou do uso do celular durante a caminhada.
A razão desse crescimento incomum é um – ou melhor, três – acontecimento nos céus do mundo. Não é toda noite que a Lua parece maior que o normal, que a Lua cheia acontece duas vezes no mesmo mês e um eclipse da lua, que a deixa escandalosamente vermelha, rolam juntos e misturados.
Por isso mesmo, os olhos dos curiosos estarão voltados para o céu (ou para os sites de transmissão ao vivo, para os perfis de Instagram que retratam o universo, e assim por diante).
Aqui no Brasil, será possível acompanhar os dois primeiros fenômenos, a superlua e a lua azul. O eclipse só poderá ser acompanhado no hemisfério norte e em alguns locais da África oriental e Ásia, mas pela internet já dá para se maravilhar.
Essa é a palavra que a astrônoma, Josina Nascimento, pesquisadora da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional usa para se referir ao eclipse da Lua. “É realmente impressionante, a Lua fica mesmo vermelha e vai ganhando tons variados de vermelho ao longo das horas”, se anima.
Lua de sangue não é nome científico do fenômeno. O certo, ensina Josina, é eclipse lunar, ou da Lua. Mas o fenômeno em si é importante cientificamente. “Foi observando eclipses, do sol ou da lua, que os cientistas descobriram muito sobre o universo, a Terra e até provaram a Teoria Geral da Relatividade de Einstein, no início do século XX, lá em Sobral no Ceará”, lembra a astrônoma.
Essa que aconteceu em 31 de janeiro não tem nenhuma peculiaridade especial, mas é sempre uma alegria observar.
Aliás, os dois outros acontecimentos (não são fenômenos científicos, corrige Josina Nascimento) também não tem grande força científica. “Bluemoon é um termo que explica a presença de duas luas cheias num intervalo que chamamos de mês, pelo nosso calendário gregoriano. Nada espantoso, porque a fase da lua se repete a cada 27 ou 28 dias e isso é bastante conhecido já”, pondera a pesquisadora do Observatório Nacional. Do mesmo modo, a Superlua também não impacta muito os estudos e a observação astronômica. “O termo não é científico, nem sabemos bem quem popularizou, mas indica uma percepção de que o satélite está maior e mais brilhante. Isso acontece porque a distância da Terra à Lua está menor que o habitual e nossa sensação é que o astro cresceu e está mais luminoso. Também é algo bem conhecido para a ciência”, propõe.
No entanto, contrariando a frieza dos fatos e dos dados, acontecimentos como os do dia 31 – ainda mais tudo junto e misturado – têm um poder formidável de fazer todo mundo parar um segundinho e pensar no Cosmo, pensar que a Terra não está sozinha no espaço, que a natureza continua se impondo. Josina Nascimento explica assim: “É um dia, ou uma noite, em que todo mundo para para pensar no céu e chega a esticar o pescoço para procurar a Lua e ver se ela está mesmo diferente”.
Só isso, garante a pesquisadora, já é muito legal. Mas tem mais. Somando essa curiosidade às informações que, de um jeito ou de outro, circulam em dia de estrelato lunar, “pode acontecer do bichinho da ciência, da exploração espacial, da astrofísica, morder uma criança ou um adolescente e ali nasce um cientista”, comemora Josina Nascimento.
Se, por acaso, na sua cidade chover, estiver nublado e a Lua não se mostrar em toda sua glória e esplendor, a astrônoma avisa que em 27 de julho de 2018 tem mais. É noite de eclipse lunar e com detalhes ricos. Algumas cidades verão a Lua nascer já eclipsada, um fenômeno não muito comum e bem interessante. Será, imagina Josina Nascimento, um bom momento para conversar sobre astros, estrelas, viagens espaciais e nós terráqueos em meio a tudo isso.
(Imagem de abertura: Time and date)