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Identificado o maior pterossauro já encontrado na Península Ibérica
Paleontologia

por | 27 mar 2019

ilustração da home: Hugo Salais/Metazoa Studio

 

Fotografias e tomografias da espécie

A partir de um fragmento de crânio, mais especificamente sua ponta, cientistas do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) conseguiram identificar a maior espécie já encontrada de pterossauro que voava pelos céus da Península Ibérica.

Iberodactylus andreui – assim chamado em homenagem a Javier Andreu, o coletor que encontrou o fóssil no fim dos anos 80 na província de Teruel, nordeste da Espanha –  tinha envergadura de quatro metros, dentes e uma crista sagital (protuberância ao longo do topo da cabeça) muito particular, conforme explicou ao Ciência na Rua o pesquisador Borja Holgado, primeiro autor do artigo publicado na semana passada no periódico Scientific Reports, do grupo Nature.

Holgado é espanhol de Valência, onde fez licenciatura em Biologia, passou pela Universidade Autônoma de Barcelona no mestrado e veio fazer o doutorado no Museu Nacional da UFRJ, atraído por sua coleção de pterossauros, uma das mais importantes do mundo, e pela chance de ser orientado por Alexander Kellner, referência no estudo desses animais.

Os pterossauros muitas vezes são chamados erroneamente de “dinossauros voadores”, mas não são dinossauros, apenas parentes próximos. “Os únicos dinossauros voadores que existiram – e existem – são as aves, pois são os descendentes de uma linhagem de dinossauros que sobreviveu à grande extinção massiva de 66 milhões de anos atrás”, explica Holgado. A ordem Pterossauria surgiu há cerca de 228 milhões de anos, no final do período Triássico, e foi o primeiro grupo de vertebrados que atingiu a capacidade de voar ativamente. Eles dominaram os céus da era Mesozóica durante mais de 160 milhões de anos e se extinguiram junto com seus parentes mais famosos.

Iberodactylus andreui, à esquerda, e Hamipterus tianshanensis, à direita

A crista sagital do Iberodactylus andreui se assemelha um pouco à de uma espécie chinesa, o Hamipterus tianshanensis, e sua identificação fez com que os pesquisadores propusessem uma nova família, os hamipterídeos. Eles estão dentro do clade Anhangueria – clade é um “galho da ávore da vida” com um ancestral comum. Esse ramo de grandes pterossauros piscívoros  apresenta cristas craniais e agrupa não só os hamipterídeos, mas também os anhanguerídeos, uma família de pterossauros da qual fazem parte muitas espécies brasileiras como o Anhanguera piscator, o Cearadactylus atrox, ou o gigantesco Tropeognathus mesembrinus, de mais de 8 metros de envergadura.

A descoberta do Iberodactylus andreui e a nova proposta filogenética dos autores é chave para entender a diversificação dos pterossauros do clade Anhangueria porque os hamipterídeos são uma família mais antiga e mais primitiva, exclusiva do que hoje em dia é Eurásia. Assim, milhões de anos depois, a clade Anhangueria se diversificou, e restos fósseis associados a essa linhagem foram encontrados por todo o planeta.

Além de Holgado, se dedicaram à determinação taxonômica e à análise filogenética seu orientador Alexander Kellner e Rodrigo Pêgas, da UFRJ, e Taissa Rodrigues, da UFES. A parte da microtomografia computadorizada teve o apoio de Josep Fortuny, do Instituto Catalão de Paleontologia Miquel Crusafont, co-orientador de Holgado. Outra figura chave para o trabalho foi José Ignacio Canudo, diretor e curador das coleções paleontológicas do Museu de Ciências Naturais da Universidade de Zaragoza, que permitiu o estudo com o holótipo (ou seja, espécime, ou, no caso, o fóssil a partir do qual se descreve a espécie) do Iberodactylus andreui. Participou ainda Julio Company, da Universidade de Valência. O artigo, em inglês, pode ser lido em https://www.nature.com/articles/s41598-019-41280-4.

 

 

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