por Thaciana de Sousa Santos
Colunista defende com vigor o ensino público e diz que não dá para se abster quando o ameaçam
Estamos em clima de copa e de eleições e acho que não preciso dizer em quem vou votar, né? Defendo com unhas e dentes o ensino público, mas não só o ensino, a saúde também. Não tem como privatizar o SUS, não tem!
Sempre que posso, apoio os meus amigos a buscarem, sim, a aprovação em uma universidade federal, estadual ou até mesmo os institutos federais, mas nunca, nunquinha, ir para uma instituição privada. É o nosso lugar e temos que ocupá-lo, chega de brancos e ricos sendo maioria.
Eu não preciso vir aqui e listar tudo o que o desgoverno atual está fazendo, está tudo aí na internet. Nem citar as barbaridades que foram faladas, sem contar a utilização da bandeira brasileira como bandeira política. Ou o cinegrafista que foi espancado por um apoiador do atual presidente.
Mesmo com tudo que ele já fez (ou não), a questão da educação é a que mais tem me incomodado ultimamente. Na última semana houve paralisação na USP por causa dos novos cortes no orçamento dos institutos e universidades federais. Não dá para se abster nessa situação, podemos ser os próximos afetados. O dinheiro público é usado para enriquecer mais ainda os ricos, deixando os pobres cada vez mais pobres. Cortam investimentos em educação, saúde, moradia, programas de reabilitação, e esperam que o brasileiro viva confortavelmente sem o mínimo.
Estar na faculdade ou na escola, em todos os anos anteriores à universidade, não é apenas estudar, é também contar com uma rede de apoio que envolve infraestrutura, professores, materiais didáticos etc. E como teremos profissionais qualificados se não há investimento?
Como esperamos que os jovens sejam o futuro do país, se há quem apoie e promova o corte de verbas na educação? Há escolas em situações precárias, até sem banheiros para alunos e professores ou sem comida. E isso quando tem professores – sua falta é uma realidade em muitos lugares!
A USP foi muito bem planejada, com espaços incríveis, mas, como qualquer lugar, não é perfeita. Eu não conheço muito além de onde estudo, mas sei que os alunos do Crusp, a residência universitária, ficam sem água, às vezes.
Sim, não é só sentar e estudar, nunca foi nem será. Se fosse, eu estaria com as notas nas alturas. Há uma série de fatores que influenciam nos estudos de cada um, e os meus eu já compartilhei aqui. A USP tem uma ótima estrutura, comparada a muitas outras instituições. Não corremos o risco de fechamento, mas é preciso lutar pelos outros que estão ameaçados, sem o que, como já disse, podemos ser os próximos na escalada contra a educação. Espero que não, de verdade, por isso mesmo sei, conscientemente, quem merece o meu voto, e em São Paulo não é quem quer privatizar a Sabesp.
Já imaginou como é estudar num lugar com medo de que venha a fechar? Como ir bem nas provas com esse sentimento? Você passa tanto tempo estudando, noites sem dormir, anos de vestibular, para não ter essa segurança?
E as bolsas, auxílios a pesquisas, como ficam? Não ficam se a escolha for errada, é isso. Vai se tornar cada vez mais difícil para os brasileiros conquistarem o mundo, teremos cada vez menos mestres e doutores em ciências, pois sempre haverá algo mais importante do que ciência e educação para o investimento público.
Não dá para fazer a escolha errada. Cadê aquele povo que foi às ruas por causa de 20 centavos a mais na passagem? Vamos lá!
Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua