jornalismo, ciência, juventude e humor
Habemus vacina – mas mantenham as máscaras e o distanciamento físico!

A eficácia de 78%, demonstrada em testes clínicos finais, numa vacina baseada em plataforma tecnológica tradicional, com grau de segurança largamente testado, é boa notícia, em especial quando o Brasil acabou de ultrapassar as 200 mil mortes. E o governador paulista João Doria não poupou esforços para ressaltá-la, ao anunciar hoje, em coletiva à imprensa, junto com o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, membros de sua equipe e do comitê de contingência da covid-19, além de outros pesquisadores destacados da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), esse resultado da CoronaVac, produto da empresa chinesa Sinovac, com forte participação do Butantan em seu desenvolvimento. Doria reiterou que São Paulo poderá, de fato, começar a vacinação contra a covid-19 no próximo dia 25 de janeiro.

Adiado algumas vezes, o que provocou questionamentos sobre os dados efetivos da fase 3 dos testes clínicos, críticas contra o que seria a falta de transparência no andamento do estudo e, de outro lado, pelo menos uma resposta muito dura do Butantan, o anúncio do percentual geral da eficácia foi reforçado por outros indicadores positivos: 100% de diminuição das formas graves da covid, 100% de redução nos casos moderados, 100% de redução da internação hospitalar.

Slide apresentado durante entrevista coletiva hoje em São Paulo

Pesquisadores da área aplaudiram. “A se confirmarem os dados de 78% de eficácia e 100% de proteção de doença grave, os resultados superam as expectativas”, disse ao Ciência na rua Jorge Kalil, professor titular de Imunologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor).

Sem apresentar detalhes dos dados – apesar da insistência dos repórteres –, que estarão disponíveis apenas quando for publicado o relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dimas Covas informou que, num universo de 12.476 voluntários, houve pouco mais de 160 casos de covid-19 entre a metade que tomou placebo (substância inócua, fundamental para que se tenha nesses testes um grupo de controle do composto estudado) e pouco menos de 60 casos – todos leves – entre os voluntários que tomaram a vacina.

Esse grande conjunto de voluntários dos testes coordenados pelo Instituto Butantan, com participação de 16 centros de pesquisa espalhados pelo país, foi totalmente formado por profissionais da área da saúde da linha de frente do combate à pandemia e acima de 18 anos.
Trata-se de grupo de risco, dos mais sujeitos à infecção pelo Sars-CoV-2 em decorrência da alta e contínua exposição ao vírus no tratamento de doentes. Covas destacou exatamente esse diferencial dos testes coordenados pelo Butantan em relação a outros conduzidos no mundo inteiro para acentuar o significado de uma eficácia geral de 78%.

Deixava, assim, entrevisto que certamente ela seria mais alta num grupo que representasse a população em geral, como aconteceu com os testes da CoronaVac na Turquia, por exemplo. Entretanto, não afirmou isso taxativamente, assim como não informou quantos dos mais de 12 mil voluntários dos testes no Brasil tinham mais de 60 anos, dado importante para calcular a eficácia entre idosos, grupo que representa nada menos do que 77% dos que morrem em decorrência de covid, e cujo sistema imunológico é, em regra geral, menos reativo do que o da população até 59 anos. “Seria importante saber a eficácia em idosos, alvo principal da campanha de vacinação”, observou Kalil a esse propósito. Covas informou que um teste totalmente voltado para idosos está sendo iniciado.

Depois de uma reunião na Anvisa na manhã desta quinta-feira, a expectativa era de apresentação do pedido de autorização para uso emergencial da vacina entre o fim da tarde de hoje e a sexta-feira. Se os prazos com que se está trabalhando funcionarem, 10 dias depois pode sair a autorização. Depende crucialmente disso que a vacinação seja iniciada ainda em janeiro.

Já o pedido de registro definitivo será feito pela Sinovac e não tem prazo ainda estabelecido. Certamente será preciso acompanhar os voluntários por mais vários meses para apresentar dados fundamentais de farmacovigilância à Anvisa.

Praticamente, já temos vacina. Mas por muito tempo será preciso prosseguir com as máscaras e o distanciamento físico, até que se tenha cerca de 80% da população brasileira vacinada e o conjunto imunizado, barrando a circulação do vírus da pandemia.

Compartilhe:

Acompanhe nas redes

ASSINE NOSSO BOLETIM

publicidade