Já vi muito diálogo ser interrompido com a exclamação: Isso é científico! Portanto, sem chance para contra-argumentação. Numa olhada rápida ao dicionário encontramos a palavra “científico” colada a rigor, objetividade, precisão. No entanto, ela também é usada por muita gente como sinônimo de dogma.
Dogma tem a ver com religiões. É tudo aquilo que não se pode discutir, muito menos questionar. Dogmas não permitem a expressão do contraditório. Da dúvida. Tudo ao contrário da ciência que se alimenta, ou deveria se alimentar, de teses, comprovações, contradições, argumentos fervilhantes.
Mas muitos usam o “científico” como “fim de papo”, pois a ciência seria a verdade. Só que não é o tempo todo assim. Tomemos um exemplo matador: por muito tempo a psiquiatria – ramo da medicina – afirmou ser a homossexualidade uma doença, um distúrbio mental.
É evidente que tal afirmação não saiu de nenhum laboratório e nem passou por metodologias científicas. Ela certamente teve a ver com “agradar” a moral vigente. Mas qual moral pode ser científica?
O problema piora quando a ciência – parte dela, é claro – se confunde com poder absoluto, negligenciando e desautorizando outros saberes. As parteiras que o digam! Elas que ajudam muita gente a nascer nos rincões do Brasil, passaram a ser consideradas “mão de obra não especializada”.
Pode até ser que as parteiras não sejam especializadas, mas que sabem muito, lá isso sabem. O mesmo olhar de alto para baixo é lançado às ervas medicinais, à acupuntura e a dezenas de outros saberes e técnicas.
Daí, sempre duvido da arrogância da ciência como verdade. Toda vez que alguém afirma subindo a voz: Mas é isso é científico, respondo com suavidade: Prove então.
Fernanda Pompeu é webcronista louca por ciência.