Há quem torça para o time roendo as unhas, rezando um rosário ou até em silêncio e concentração absoluta. Mas há também quem acompanhe as partidas e o desempenho dos times e das seleções calculando. Isso mesmo, fazendo contas e encontrando estatísticas e probabilidades que ajudam a explicar e desvendar o esporte bretão.
É o caso dos pesquisadores do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI). Reunindo cientistas de vários estados do Brasil, o centro desenvolveu uma metodologia própria que envolve um modelo probabilístico. “Por meio desse modelo, com as informações objetivas, como o ranking da FIFA, chaveamento e os resultados dos jogos que forem acontecendo, e informações subjetivas, como opiniões de experts, são simulados 100 mil torneios em cada etapa da competição, ou seja, 100 mil copas fictícias e são guardadas as trajetórias de todos os times nessas simulações. A partir daí, podemos obter todas as probabilidades de interesse”, ensina o estatístico Francisco Louzada, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo, (ICMC/USP), em São Carlos. Louzada é um dos coordenadores do CeMEAI.
Também estatístico e pesquisador no CeMEAI , Anderson Ara completa a explicação informando como a metodologia do CeMEAI vai se debruçar sobre a Copa do Mundo, que começou na quinta-feira, 13 de junho, e seguirá até 15 de julho de 2018. “Através do andamento da copa, mais precisamente ao término de cada rodada de cada fase, o modelo probabilístico é atualizado com os placares dos jogos já ocorridos e 100.000 copas fictícias são novamente simuladas, no sentido de tornar as previsões ainda mais precisas a medida que a Copa 2018 avança”.
Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ara defende que o estudo das estatísticas e das probabilidades ajudam a revisitar e, quem sabe rever, a velha ideia de que o futebol é uma caixinha de surpresas. “Diante de tantas incertezas, a estatística pode ser aplicada a qualquer contexto, inclusive o da previsão esportiva”, e segue “as técnicas de modelagem utilizadas no previsaoespotiva.com.br podem ser estendidas e readaptadas para outros esportes e contextos diversos tais como finanças, saúde, fraude; no sentido de minimizar o conceito ‘caixa de surpresa’ para diversas decisões da vida real”. O professor Louzada concorda: “No futebol, existe uma grande quantidade de incertezas, incluindo aqui erros de arbitragem, lesão de jogadores importantes, expulsão de jogadores, condições climáticas, condições psicológicas dos jogadores, dentre outras, que impactam de forma significativa na probabilidade de uma seleção se consagrar campeã. E aí que a estatística entra, com o papel fundamental de conseguir apresentar resultados em meio a presença de variabilidade”.
Ali em cima, o professor da UFBA cita o Previsão Esportiva. O site recebe os levantamentos, as análises e os cálculos que os pesquisadores do CeMEAI produzem. Entre eles, um estudo, no mínimo polêmico. Segundo as contas dos estatísticos, a Alemanha seria a equipe com mais chances de ganhar a Copa de 2018. A ideia vem à tona num momento apropriado, já que esta reportagem vai ao ar justamente no dia em que a Alemanha estreia no campeonato. E o Brasil também.
Mas Francisco Louzada não acha perigoso divulgar o resultado. “É importante ressaltar que os modelos estatísticos apontam probabilidades de se ganhar um campeonato em meio a presença de incerteza. O fato de uma seleção ser apontada como favorita não implica que a mesma, de fato se consagrará campeã”. Traz algum alívio para os torcedores das outras equipes. “Devemos entender assim: em determinado momento, determinada seleção tem maior probabilidade de consagrar campeã, mas, durante o desenrolar do campeonato, isso pode se alterar, e outra seleção pode assumir a frente. Quando prevemos que uma seleção tem 30% de probabilidade de se consagrar campeã, de forma complementar, a mesma tem probabilidade de 70% de perder”, ensina o professor da USP. No estudo feito pelo CeMEAI, a Espanha seria a segunda colocada e o Brasil ficaria em terceiro, vencendo a Bélgica na disputa pelo terceiro lugar. “Não se trata de se apresentar, antes do início do campeonato, uma determinada probabilidade estática de uma seleção se consagrar campeã, e depois comparar com o resultado real final, e sim, de se poder recalcular essa probabilidade dinamicamente, a medida que o campeonato avança e que as informações sobre as seleções são obtidas. Ou seja, precisamos ver o modelo estatístico inserido dentro de uma estrutura dinâmica que nos dê a oportunidade de acompanhar as probabilidades das seleções temporalmente”, propõe Anderson Ara, da UFBA, colocando os cálculos no devido lugar. Até porque, “os resultados divulgados são consequência direta da metodologia empregada, que considera a ponderação de informações objetivas e subjetivas e que, no início da copa, consagram a Alemanha como favorita”, lembra. Em resumo, para aliviar o coração do torcedor, a previsão é validada pela liderança da Alemanha no ranking da FIFA e pela opinião de experts esportivos que integram o modelo. “Vale ressaltar ainda que nossas previsões apontam, com probabilidade próxima a 60%, que o título de campeã do mundo 2018 ficará entre Alemanha, Bélgica, Brasil ou Espanha”.
Além de alimentar as esperanças da torcida, as previsões dos estatísticos do Centro também podem dar uma forcinha para os bolões, tão frequentes em tempos de Copa do Mundo. Usando probabilidade e estatística é possível apostar melhor e conseguir melhor resultado no bolão, garantem os especialistas. “Utilizar um modelo que nos guia em termos de previsão dos resultados nos oferece possibilidade de apostar com mais convicção”, afirma Francisco Louzada. “Inclusive, o previsaoesportiva.com.br conta com o mecanismo ‘Simule seu Palpite!’, em que o próprio visitante do site pode incluir suas suposições de placares para os jogos, os quais são mesclados com nosso modelo e o visitante do site terá uma previsão individual e personalizada, a qual pode orientá-lo a apostar com mais convicção em seu palpite”, completa Anderson Ara. Mas vale aqui uma ressalva. Para tomadas de decisão, em qualquer contexto, a estatística e a análise de dados são ferramentas que devem ser consideradas. Mas os trabalhos do CeMEAI, publicados no Previsão Esportiva, têm intuito educacional e de divulgação das metodologias estatísticas. Ou seja, não vale responsabilizar a matemática se você perder no bolão.