A Sonda Solar Parker está, há algumas semanas, a caminho do Sol, onde realizará medições que vão ajudar a humanidade a compreender melhor as erupções solares e se preparar para seus efeitos. Esse grande passo na exploração espacial se apoia, como não poderia deixar de ser, em muita tecnologia. “A Sonda usará detectores de campos magnéticos e de campos elétricos de grande escala espacial, detectores de particulas carregadas em diversos intervalos de energia, detectores do plasma solar (ou vento solar) e imageador das estruturas solares. Esses detectores ja vêm sendo usados em outras missões espaciais, só que a complicação com a sonda Parker é que terão que funcionar em ambiente com altas temperaturas”, explica o físico Walter Gonzalez, do INPE, especialista em clima espacial. Ele trabalhou na Nasa por dois anos, na face inicial do projeto da sonda, participando da modelagem da interação de campos magnéticos (reconexão magnética) que originam as explosões solares (rápida liberação de energia que faz aparecerem manchas na superfície do sol) e as ejeções de matéria coronal do Sol (rápida liberação de energia que ejeta matéria solar no espaço) e também no estudo das tempestades geomagnéticas decorrentes, usando diversos satélites da agência.
Os principais conjuntos de instrumentos de pesquisa que a sonda carrega são quatro. O conjunto FIELDS faz medições de campos e ondas elétricos e magnéticos, fluxo de Poynting flux (o fluxo de propagação de uma onda eletromagnética), densidade do plasma e temperatura dos elétrons, potencial de flutuação de espaçonave e flutuações de densidade, além de ondas de rádio. O conjunto ISIS (Investigação Científica Integrada do Sol, na sigla em inglês) detecta partículas aceleradas a altas energias na atmosfera solar e heliosfera interior e as correlaciona com ventos solares e estruturas da corona. O conjunto WISPR (Imageador de Amplo Campo de Visada para Sonda Solar, na sigla em inglês) tem dois telescópios para fazer imagens da corona solar e da heliosfera interior, além de imagens de ventos e ondas solares ou outras estruturas que se aproximem ou passem pela nave. O conjunto SWEAP (Investigação de Vento Solar, Elétros, Alfas e Prótons, na sigla em inglês) contará as partículas mais abundantes no vento solar (elétrons, prótons e íons de hélio) e medir suas propriedades, como velocidade, densidade e temperatura.
Protegendo tudo isso, está um escudo com dois painéis finos (pouco mais de um milímetro) de carbono, recheado com cerca de 11 centímetros espuma de carbono. Como essa espuma é 97% ar, o calor não tem muito para onde ir, mesmo o carbono sendo um bom condutor térmico. Na ausência de ar que ajude a dispersar o calor no espaço, porém, foi necessária mais uma proteção, uma lâmina branca que ajude a dispersar o calor através de energia luminosa, feita de óxido de alumínio branco. Para proteger essa lâmina, finalmente, botou-se uma cobertura de material cerâmico poroso, já que os poros evitam que rachaduras se espalhem pela superfície. Esse escudo de 2,4 metros de diâmetro vai encarar um calor de 1400 graus celsius pela frente, deixando a parte de trás a menos de 30 graus celsius.
E assim, a sonda do tamanho de um carro segue rumo à estrela mais próxima da Terra, usando a gravidade de Vênus para manobrar. Com os dados que ela coletar e enviar, cientistas poderão entender melhor o funcionamento das erupções solares e outras estruturas, permitindo, no mínimo, elaborar alertas com mais antecendência para nos prepararmos para suas consequências, especialmente interferências em aparelhos eletrônicos, desde satélites lá em cima, até o celular na sua mão.