Tatá deixa a física de lado um pouco pra questionar a abordagem do poder público às chuvas em São Paulo

ilustração: @paozinho_celestial
Eu pensei em diversos assuntos que poderia abordar aqui hoje, mas nada me parecia o suficiente. Tinha algo me incomodando, e percebi que era sobre isso que eu precisava falar. Mesmo não sendo da minha alçada, eu não posso mais não falar sobre o assunto. Devem estar se perguntando sobre o que eu estou falando, já que não expliquei nada. Mas, você, daqui de São Paulo, já percebeu como a cidade tem ficado durante toda essa enxurrada de chuva que estamos recebendo, não é? É sobre isso que eu vim falar. Não preciso mais entrar em detalhes sobre o aquecimento global e os seus aspectos. Hoje eu não venho aqui como uma estudante de física, Venho como uma cidadã que também está infeliz com a situação.
Gostaria de me esquivar de todos os pontos políticos aqui, mas não tem como. Não posso reclamar do crescente aumento do aquecimento global sem tocar em política e eu não posso comentar sobre o que está acontecendo aqui sem falar em política.
Eu sei que estamos falando de desastres ambientais, que são, ou deveriam ser, naturais. Mas eu te pergunto: se temos pessoas que estudam sobre o assunto e que (deveriam, pelo menos) estão sempre em contato com o governo, porque não estamos em uma situação melhor?
Veja bem, não estou culpando ninguém que passou anos estudando ciências da natureza e foi lá tirar o seu diploma. Essa capacidade eu não questiono. Questiono o uso do dinheiro que pagamos de impostos que não estão sendo devidamente usados em planos de prevenções contra enchentes. O que anda acontecendo em São Paulo não deveria acontecer. Se o dinheiro público não está sendo usado para melhorar o transporte público (que sabemos ser horrível), nem a saúde (que não se é possível fazer um exame simples de ultrassonografia na Santa Casa) e talvez muito menos a educação pública (que possui tantas defasagens que fica até difícil de contar), onde ele está sendo usado?
Observando muito o abismo que foi criado com a presidência do Bolsonaro, eu percebi que as pessoas estão votando em seus representantes de forma errada. O bem comum já não é mais importante do que o homem, o indivíduo. Deixamos de pensar em como tal gestão afetaria a todos e pensamos como afetaria à nós. E e se à nós não convém, aparentemente não serve.
Eu, genuinamente, gostaria de evitar que pessoas em situação de rua enfrentassem toda essa chuva de forma tão desproporcional. Gostaria de assegurar a todos que seus entes queridos voltarão para a casa. Enquanto o prefeito e o governador estão seguros em suas casas, somos eu, você, todos nós, que saímos cedo todo dia e mantemos a cidade e o estado funcionando e enchendo os bolsos daqueles que deveriam assegurar vida digna à nós.
Eu jamais poderia fingir que nada disso está me afetando e não comentar só porque sou de exatas e a situação é muito mais política do que qualquer outra coisa. Nós (de exatas) temos que parar de nos abster do mundo real só porque está fora da nossa zona de conforto.
Gostaria que não tivéssemos chegado ao ponto que chegamos. Gostaria de que não tivéssemos pessoas se despendido de ajuda porque não sabem se sobreviverão às enchentes. Gostaria de que fosse tudo diferente. Mas talvez seja hora de pedirmos mudança. Já fomos às ruas por um aumento de 20 centavos na passagem e hoje, apenas aceitamos o aumento, só que não podemos aceitar isso!