- Estudo mapeou e analisou vídeos com desinformação sobre vacinas no YouTube
- Mais da metade dos vídeos dissemina informação de que vacinas não são seguras
- Canais lucram com propagandas, além da venda de produtos e serviços de saúde alternativa
Apesar das declarações de comprometimento do YouTube em relação ao combate a desinformações perigosas, desinformações sobre vacinas continuam sendo disseminadas em vídeos em português, gerando lucro para produtores de conteúdo e para a própria plataforma. Oito dos vinte canais que disseminam essas informações falsas têm o selo de conta verificada pelo Youtube e pertencem a companhias ou a promotores de serviços de saúde alternativa. É o que aponta um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, que será publicado na segunda (26) na revista “Frontiers in Communication”.
Usando ferramentas de coletas de dados no Youtube, os pesquisadores localizaram 158 vídeos sobre vacinas com mais de 10.000 visualizações, interações e conexão com algum outro vídeo da rede. As coletas deste material foram realizadas em fevereiro e em março de 2020, ou seja, num período anterior às discussões em torno da vacina de Covid-19.
Um total de 52 vídeos foram classificados como contendo informações erradas ou desinformação sobre vacinas. “As principais desinformações encontradas coincidem com as mais populares entre as comunidades de oposição a vacinas”, comenta Dayane Machado, uma das autoras do estudo. Afirmações de que as vacinas contêm ingredientes perigosos (presente em mais 53% da amostra), de defesa da liberdade de escolha (em 48%), de promoção de serviços de saúde alternativa (em 42%) e de que as vacinas causam doenças foram algumas das desinformações presentes nos vídeos.
Os pesquisadores também localizaram anúncios de 39 marcas em 13 vídeos analisados. “Entre elas, estão marcas globais como Mobil, Kia, Fiat, Philips, Spotify, Eucerin (Beiersdorf) e Buscopan (Boehringes Ingelheim) e até anúncios dos governos da Índia e do Japão”, aponta Dayane. Os vídeos analisados têm estratégias de lucro variadas, segundo comenta a pesquisadora, indo além da estratégia de monetização de conteúdo proposta pelo Youtube.
Boa parte das políticas de moderação da plataforma Youtube são direcionadas a conteúdos de língua inglesa – resultado da repercussão de estudos científicos sobre o tema e da pressão social direcionada às empresas anunciantes. “O estudo alerta para o fato de existir uma falta de atenção sobre a moderação de conteúdo e o cumprimento de políticas de uso das plataformas em relação a outros idiomas que não sejam o inglês”, aponta Dayane. Para ela, o estudo pode contribuir para alterar políticas de uso das plataformas digitais e para mudanças na expansão da infraestrutura de moderação de conteúdos em outros países.
A pesquisadora também espera que o estudo fortaleça a discussão sobre o mercado de terapias alternativas de saúde no Brasil. “A associação entre a desinformação sobre vacinas e a promoção de produtos e terapias de saúde alternativa não é uma novidade para esse campo de estudo”, acrescenta.