Bastante desconcertante uma mulher figurar como precursora do mundo tão masculino dos computadores. O nome dela é Ada Lovelace (1815-1852), nascida na Inglaterra. Quem faz leitura apaixonada de sua contribuição e inspiração é Walter Isaacson, no livro Os Inovadores – uma biografia da revolução digital. Por sinal o livro – que vai da máquina com cartões até a web – começa e termina falando da múltipla Ada: filha de Lorde Byron, condessa depois do casamento, e brilhante matemática.
Seu raciocínio matemático ultrassofisticado permitiu que ela enxergasse emoção nos números, equações, algoritmos. Há quem acredite que quando poesia (humanas) e números (exatas) se unem, temos uma explosão de criatividade e inovação. São muitos os exemplos, Albert Einstein se arriscava a tocar violino toda vez que não encontrava solução para um problema complexo. Ele acariciava a alma para estimular a mente.
A grande sacada de Ada Lovelace veio quando ela se encontrou com Charles Babbage (1791-1871), idealizador de um pré-computador, batizado de Máquina Analítica. A ambição de Babbage era que sua engenhoca mecânica fizesse cálculos numéricos colossais, liberando a imaginação humana para voos mais produtivos. No entanto, foi a jovem Ada quem compreendeu a potencialidade do invento. Ela percebeu que se a Máquina Analítica podia combinar números, também seria capaz de processar qualquer símbolo. Isto é, alfabetos e notações musicais.
Partindo da compreensão que imaginar é a faculdade de fazer combinações, Ada arregaçou as mangas do seu vestido de condessa e trabalhou no que muitos afirmam ter sido o primeiro programa de computação. Mas, por fim, o governo britânico – como acontece com a maioria dos governos – não se sensibilizou com o experimento de Babbage e a programação de Ada. Cortou a possibilidade de financiamento, atrasando a biografia dos computadores. Ada morreu logo depois aos 36 anos. Babbage faleceu “esquecido” e pobre. História triste? Para os dois sim.
Para nós nem tanto. A Máquina Analítica teria continuadores incrementais e Ada Lovelace passou para a posteridade como a autora do insight que previu os computadores modernos. Esses capazes de processar qualquer símbolo, além dos números. Foi a partir do pensamento da moça que eu e você agora usamos nossas maquininhas digitais para resolver equações matemáticas, escrever e ler relatórios e crônicas, encontrar ruas, curtir filmes, compor e ouvir o mundo.