Busca por princípios ativos derivados da natureza via engenharia genética é boa alternativa
A força maior dos medicamentos está em seu princípio ativo, aquela substância que realmente combate e neutraliza o agente agressor do organismo. Entre os remédios que encontramos nas farmácias, metade tem o princípio ativo derivado de compostos sintéticos, fabricados, em geral, a partir de petróleo, e metade tem origem em produtos naturais ou derivados, que são moléculas produzidas por plantas, fungos, bactérias e similares.
Para produzir medicamentos, garante a química Alessandra Estáquio, professora da Universidade de Illinois em Chicago (UIC), é importante investir e pesquisar as duas fontes. Ela falou no 2º Workshop Recent Advances in the Chemistry of Natural Products, evento do programa BIOTA-FAPESP, na terça, 9 de novembro.
À Agência Fapesp, Alessandra disse que “os dois caminhos apresentam vantagens e desvantagens. A vantagem dos produtos naturais é que a atividade biológica que eles manifestam resulta de uma evolução de milhões de anos. Outra vantagem é que sua produção constitui um processo mais sustentável”.
Acontece que para conseguir matéria prima suficiente para produzir em larga escala fármacos derivados da natureza, é necessário processar uma quantidade ainda maior das plantas, fungos, ou bactérias produtores dos compostos. Para tornar o processo factível, a professora explica que é preciso sintetizar – produzir artificialmente em laboratório – o composto do princípio ativo.
“Em alguns casos, a estrutura encontrada na natureza é utilizada diretamente como medicamento. Exemplo disso é o paclitaxel, um fármaco extraído da casca do teixo (Taxus brevifolia), empregado no tratamento do câncer. Mas a maioria dos compostos naturais necessita de alguma modificação para poder funcionar como medicamento. Alguns precisam ser estabilizados, porque se degradam muito rapidamente. Outros precisam de alterações que favoreçam sua absorção e distribuição no organismo humano. Outros ainda precisam que seu efeito seja potencializado. E assim por diante”, contou Alessandra.
Um dos caminhos possíveis e que vem se mostrando promissor, segundo a pesquisadora, para a síntese dessas substâncias é usar a engenharia genética para transferir os genes responsáveis pelo composto de um organismo para outro – por exemplo, de uma planta para uma bactéria ou levedura. “A vantagem, no caso, é que as bactérias ou leveduras são mais fáceis de cultivar e crescem mais rapidamente do que as plantas”, defendeu Alessandra. Sua equipe, na Universidade de Illinois, trabalha com bactérias para desenvolver antibióticos e anticancerígenos.
“Com o boom de sequenciamentos de genomas microbianos, ficou claro que o potencial biossintético dos microrganismos é muito maior do que se supunha. Uma bactéria típica, à qual são atribuídos alguns poucos compostos, pode produzir mais de 30, a partir de sua estrutura genômica. Ocorre que a maioria dos genes responsáveis pela biossíntese é silenciada ou não é bem expressa em condições laboratoriais de crescimento. Sabendo que genes são esses e qual é o seu potencial, torna-se possível ativar esses genes e obter os compostos correspondentes”, disse Alessandra Eustáquio.